Márcia chegou do interior para estudar. Morena, de corpo perfeito, com apenas 17 anos, começou logo a trabalhar em casa de família e a estudar à noite. Cortejada no prédio, desde moradores até aos funcionários do condomínio, a moça já estava avisada de que "os homens de Belém são muitos espertos. Querem só embuchar e deixar pra lá", como lhe alertara Cleuma, colega que também trabalha no Condomínio.
No prédio em que trabalhava falava com poucos. Chegara com a cabeça de que teria que vencer, trabalhando e estudando.
Já estava trabalhando em uma mesma casa há quase sete anos. Residia no local do trabalho, onde tinha seu quarto, pequeno mas confortável, com TV e tudo mais de primeira necessidade. Resistiu às investidas do garotão filho de dona Anita, a patroa e do cunhado dessa, Carlos, irmão de seu Heitor, que ao contrário do irmão, era um homem de aproximadamente 45 anos, mas de muito respeito, não tirava brincadeira de maneira nenhuma, era sempre fechado e rígido com os filhos, Heitor Júnior e Gabriela, a Gabi.
O GRANDE ENCONTRO
Foi uma novidade para todos ela dizer que iria sair um final de semana para uma festa com um amigo. O tal amigo deixou dona Anita, a patroa, de orelha em pé.
-Quem é esse já, Marcia?
-Um amigo, lá da escola. Um rapaz legal.
-Ok. leva a chave, mas vê se não chega muito tarde, para não perturbar o Heitor quando entrar -recomendou.
-Fique tranquila, dona Anita. Vou chegar cedo -garantiu a moça.
Na festa, de aparelhagem, Márcia ficou feliz da vida. Desde garota que aprendera a dançar, mas nunca tivera oportunidade de mostrar seus dotes de dançarina em Belém, porque o trabalho e os estudos não deixaram. Ficou na festa até às 3 da manhã. O amigo já bem íntimo, queria que ela fosse para outro canto, possivelmente um motel. Mas ela se esquivou.
-Calma, mano. Ainda é cedo pra isso. O convite que eu aceitei foi para vir pra festa -sentenciou Márcia ao amigo Reginaldo, o Regi, que entendeu, ficou na sua, mas deixou bem claro que adorou a noite.
Márcia na realidade queria ficar com Reginaldo e até ir "para outro local" como ele definiu pra ela. mas não queria se queimar com a patroa. Afinal era a primeira vez, não poderia vacilar.
VIVENDO JUNTOS
Depois daquele dia, os dois passaram a se encontrar e a sair com maior frequência. Márcia adorava.
Reginaldo, que trabalhava como porteiro de um edifício de salas no centro da cidade, e parecia estar empolgado com a moça. Já estavam no namoro há mais de seis meses, quando ele convidou ela para morar com ele.
-Onde, na sua casa, com seus pais? -perguntou
-Não meu amor. Tenho um terreno em Outeiro e estou levantando uma casinha lá.
-Mesmo? -perguntou
-Sim. Bote fé. Se der certo, vou receber minhas férias, juntar com o décimo, vou terminar daqui amenos de um mês. Aí é só nós! -disse o jovem entusiasmado.
Márcia aceitou de primeira. Porém, ficou de falar com seus patrões, pois sabia que não seria fácil deixar definitivamente de dormir na casa, pois todas as noites antes de ir pra escola deixava a mesa pronta para o jantar. E quando retornava tinha que lavar a louça ou então acordar antes das seis da manhã para fazer isso e preparar o café da família.
-Dona Anita preciso falar com a senhora.
-Diga Márcia. Pode falar agora mesmo.
--Estou lhe avisando que a partir do próximo mês não vou poder mais dormir aqui.
-Mas como, menina? O que houve assim tão de repente?
O Regi me chamou para morar com ele, na casa dele e eu estou aceitando. Já falei até pra minha mãe em Igarapé Açu. A casa fica pronta m~es que entra.
-Olhe Márcia, não conheço esse rapaz, mas não posso interferir em sua vida. Espero que você tenha feito uma boa escolha. Mas lhe aviso: muito cuidado -lembrou dona Anita entristecia.
Márcia foi curta e grossa com a patroa, que era boa com ela, mas muito exigente:
-Ok. Lhe agradeço. Mas já está na hora de dar um rumo em minha vida, né.? Já estou há com sete anos aqui e preciso ter minha própria casa.
Dona Anita se conformou e até fez um negócio com Márcia. Lhe propôs dar uma quantia em dinheiro que dava para ela ajudar Reginaldo a concluir a casa e ainda comprar alguns móveis.
-A partir de agora você vai trabalhar só até 18 horas e sábado até meio dia, ok? E vou assinar sua carteira -adiantou a patroa, que gostava muito de Márcia.
A vida de casada de Márcia foi tudo que ela pediu a Deus. Passou a gostar mais de si: se arrumava todos os dias quando saia do trabalho e Reginaldo ia apanhá-la; comprou novas roupas e passou a cuidar mais de seu cabelo, que era alisado, "mas não muito legal", como falava aos mais chegados.
Passou a usar um look meio afro, sempre se atualizando. Muitas vezes com tranças. O marido adorava e gostava de sair às sextas e aos sábados para as festas, e terminavam sempre em um motel.
-Acho que vou pedir até para o pessoal daqui dar um desconto, pois só dormimos aqui nas sextas ou nos sábados -comentava com ela Regi sorrindo.
Dia de domingo era normal o casal sair para a praia de Outeiro, sempre com uma ou duas amigas de Márcia da escola. Bebiam, conversavam e depois as amigas iam embora. Muitas vezes Regi até insistia para elas ficarem até o outro dia. Mas elas sempre iam embora.
A MUDANÇA DE HÁBITO
Márcia levou Regi para conhecer sua família e logo ele fez amizade com os pais da moça. Simpático e de boa conversa, Regi conquistou o coração de todos os parentes da esposa.
Já estavam juntos há dois anos quando Regi começou a relaxar no encontro da mulher na casa de seus patrões. Ela passou a vir sozinha. Ele sempre alegava que tinha muito trabalho, teria que demorar e outras conversas. Márcia já estava chateada, porque era uma mulher que depois que descobriu o sexo com o marido queria sempre a presença dele,. "Por mim, todo dia faço amor. Não tem essa de cansaço", comentava sempre com Cleuma. Estava se sentindo de lado, praticamente relegada a segundo plano pelo marido.
Reginaldo foi mudando seus hábitos a cada dia. Além de não pegar mais a mulher na saída do trabalho, também passou a chegar em casa de madrugada às sextas e aos sábados. Márcia se segurou até enquanto pode. Um dia explodiu. A briga aconteceu de madrugada, quando o marido chegou e ela sentiu um cheiro diferente nele. Deixou ele tomar banho mas na surdina pegou a cueca dele e guardou sem o marido ver. Examinou bem a cueca e não pensou: partiu pra cima dele com tudo:
-Que é que tu quer? Não me quer mais? Está com outra na rua? Seja homem e assuma, seu filho da puta! -gritou Márcia com toda a força de seus pulmões, não respeitando nem a vizinhança que dormia.
-Calma amor. Que é isso?
-Que é isso? É isso! -e esfregou a cueca com cheiro esquisito na cara dele. Ta trepando com outra? Pode falar. Se quiser eu saio fora. Sou mulher independente e sei viver sem homem, ou melhor, sem você! -gritou Márcia descontrolada.
Reginaldo preferiu ficar calado. Evitou o pior, mesmo porque, sabia que a mulher descontrolada era capaz até de coisa pior. Achou melhor conversar com a mulher quando amanhecesse o dia.
Daquele instante em diante a relação entre o casal ficou complicada. Regi pediu desculpas, perdão,
mas Márcia estava irredutível. Ou ele mudava totalmente ou então era o final de tudo. Não aceitava ser traída, humilhada, "trocada por uma qualquer", como falou pra ele.
Mesmo assim continuaram juntos. Ela cada vez mais bonita, no auge de seus 26 anos, era sempre assediada no trabalho pelos colegas, pois comentara sua situação para a amiga Cleuma, ela deixou vazar e eles também notaram que o marido não a estava mais apanhando no trabalho.
-Vamos tomar uma hoje Márcia. O Regi não vem mesmo te apanhar -convidou Cleuma.
De pronto ela aceitou, mesmo porque estava chateada com sua situação, pois Regi não mudara.
E foram para um barzinho na Primeiro de Dezembro. Sentaram, pediram uma cerveja, depois outra. Tomaram seis cervejas. Os homens e mulheres não tiravam os olhos das duas, principalmente de Márcia, que chamava atenção pela roupa colada e as curvas perfeitas. Márcia não dava muita bola. Cleuma, que estava separada há mais de um ano, ainda sorria, mas Márcia não queria dar chance ao possível ciúme de seu marido.
A SEPARAÇÃO
Chegou em casa pouco depois das 23 horas. O marido ainda não chegara. Ligou a TV e ficou vendo um filme. Algumas cenas lhe chamavam atenção. Um casal apaixonado, se beijava e se acariciava. Chegaram a fazer sexo. Ela pensou em sua vida, nos seus desejos, no fantasma da traição. As horas passavam e Reginaldo não chegava. Márcia ficou quase sem roupa e adormeceu no pequeno sofá.
Quando Reginaldo chegou não a acordou, mas ela notou algum barulho e logo se levantou, foi pra cama e nada reclamou.
Como da vez da briga, na madrugada acordou, foi ao banheiro e depois foi direto na cueca do marido. Sentiu um perfume estranho e um forte cheiro de sexo, guardou a cueca, mas se segurou.
No outro dia, sábado, foi trabalhar um pouco mais tarde. Reginaldo foi mais cedo. Nem se falaram.
Saiu mais cedo do trabalho e dessa vez foi ela quem convidou Cleuma para sair. Foram para a casa da amiga, no bairro de Canudos. Lá por volta das 16 horas foram para um Pagode. Dançou horrores. Um rapaz que se apresentou como cabo da PM foi quem mais dançou, pediu licença e sentou com elas na mesa. Beberam, conversaram, falaram de sus vidas. Por volta das 22 horas, o pagode já estava esfriando porque começara cedo, o rapaz convidou ela para irem em outro local. A amiga disse que ela poderia ir. Sem pensar duas vezes, Márcia deixou a amiga Cleuma em casa e no mesmo táxi rumou com Juliano, o rapaz, para um bar. Beberam mais de meia noite.
Juliano estava decidido que naquela noite ficaria com ela. Bastava ela permitir.
-Sou casada. Embora em crise com meu marido, sou ainda mulher dele.
-Mas você me disse que estão brigados, que ele chega sempre tarde... -retrucou Juliano.
-Verdade.
Ficaram calados por alguns segundos, e decidiram, depois de beber mais uma cerveja, que iriam sim para um motel.
Márcia e Juliano passaram a noite parecendo um casal em sua primeira noite de lua de mel. O sexo foi a tônica da noite. Juliano, com mais ou menos 40 anos, não deu sossego à Márcia, que também foi a mulher que ele pediu a Deus.
-Você foi a melhor mulher que eu conheci, na vida Márcia. Linda, bom papo e maravilhosa no amor -disse Juliano.
-Você também é demais. Foi tudo maravilhosos, tudo de bom -disse ela.
Ficaram até às 7 horas da manhã. Tomaram café e ela foi direto para a casa de Cleuma.
AS BRIGAS E UM NOVO AMOR
Conversou com a amiga e perguntou se poderia passar o final de semana na casa dela. Disse que ajudaria no almoço.
-A casa é sua amiga. Vamos fazer um churrasquinho e comprar umas cervejas -festejou Cleuma.
Márcia não comunicou com o marido nesse dia. Passou o domingo muito bem, contou tudo para a colega, elogiou Juliano e na segunda feira cedo foi trabalhar.
Na chegada, na porta do prédio, encontrou Reginaldo em pé, à sua espera.
-Bonito pra senhora, né? Dois dias na sacanagem. Negue agora? -arguiu ele.
-Não vou negar nada. Passei o domingo na casa de minha amiga. Você não fica direto com outras mulheres? Suas cuecas estão sempre cheia de "perfume" de mulheres da rua que você anda por ai? Por que eu tenho que aguentar isso? Não sou santa, não, mano! -jogou diretamente na cara de Reginaldo.
A discussão ia ficar mais feia, mas o zelador do prédio pediu que ela entrasse e que ele por favor fosse tratar desse problema na casa deles.
À noite, Reginaldo chegou mais cedo em casa, e esperou a mulher. Quando chegou Márcia foi direto para o banheiro, tomou banho e foi para seu quarto. Ele a acompanhou e tiveram uma conversa séria. Quando Reginaldo levantou a voz, ela retrucou no mesmo tom. Irritado, ele tentou agredi-la, mas ela se defendeu. Ele deu-lhe um empurrão, ela caiu, levantou e conseguiu pegar uma figa de madeira que ficava na penteadeira e deu em sua cabeça.
Reginaldo caiu e o sangue jorrou. Ela nada fez pra acudi-lo, embora ele aos gritos pediusse socorro à vizinhança. Dois senhores o acudiram, levando Reginaldo ao Posto de Saúde. Alguém avisou à Policia, pois pensaram que ele também tivesse feito algo mais sério com ela.
terminou que Márcia foi levada ao Posto Policial para se explicar. O plantonista achou melhor deixar ela detida. Reginaldo, enquanto isso, foi levado para o Pronto Socorro, poi seu caso foi mais grave. A pancada abriu uma brecha em sua cabeça e necessitava de pontos e alguns exames.
A noite foi toda consumida com esses problemas. Parentes de Reginaldo o acompanharam e Márcia, praticamente só, teve somente a presença de Cleuma e de sua patroa, dona Anita, que conseguiu que a liberassem por ser uma pessoa de boa índole e Regi não apresentar perigo de morte.
Márcia não voltou mais para casa, a não ser para trocar as fechaduras, trancar e esperar a decisão de como ficaria a casa. Mas decidiu que não ficaria mais com Regi.
Quase um mês depois, ela se encontrou com Reginaldo e decidiram que ela ficaria com a casa e pagaria durante 12 meses uma certa quantia pra ele. A decisão, por orientação de seus patrões, foi lavrada em cartório.
Reginaldo foi morar com Samira, uma garota que ele já curtia há um bom tempo.
Márcia voltou pra sua casa, depois de um acordo de não aproximação dela com o ex-marido de menos de 100 metros. Preferiu ficar um período solteira, namorando Juliano, segundo ela sendo muito fez em todos os aspectos, "mas por ora não quero viver junto, não".
Um ano depois, passou a morar com Juliano, que conseguiu se divorciar da ex- e propôs casamento a ela . "Vamos experimentar vivendo juntos primeiro", disse. Tô ainda arrasada com o que houve. mas como gosto de você, vamos experimentar. Com seis meses juntos, ficou grávida e teve um linda menina. Um ano depois do nascimento de Yasmim, a filhinha, casou com Juliano, a quem hpje considera o homem de sua vida.