segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

TRIÃNGULO AMOROSO

José Maria Vieira, o Zé do Violão, nunca trabalhou na vida. Pelo menos, é o que se sabe. Com quase 40 anos, só fez bico na vida, e olhe lá!
Morou sempre com a mãe e os irmãos, que foram casando, saindo de casa e o Zé foi gostando e foi ficando. Tanto que dos cinco irmãos Zé é  único que mora com dona Zélia, que aos 81 anos é quem ainda segura toda a onda de casa.
Zé ficou como uma espécie de cuidador da mãe, que recebe uma pensão e uma aposentadoria. Ele é quem recebe toda a grana da mãe,  e é quem administra a vida de dona Zélia, comprando alguns remédios, alimentação e faz a sua farrinha quase toda semana, basta ter um parceiro.
Zé sempre foi um cara mais dedicado ao violão que aos estudos, por isso o apelido. A bebida vem logo em seguida. Desde garotão que bebe muito e é sempre chamado pelos amigos para uma boa farra, contanto que leve o violão.
Nunca tentou viver de música, seguir uma carreira. Hoje, veterano, descarta isso. Prefere a vidinha que leva.

PEBA, O GRANDE AMIGO

Um de seu maiores amigos,  com quem sempre faz farra, é o Paulo César, apelidado de Peba, por ser baixinho, entroncado. Peba é também bam bam bam no violão. Junto com Zé do Violão fazem uma dupla que toda semana tira dois ou três dias só para farrear. 
A semelhança de Peba com Zé do Violão é que ambos não são muito chegados ao trabalho. Os pais de Peba são bem mais modestos do que os de Zé. Enquanto Zé não tem pai mas a mãe tem uma pensão e aposentadoria, Peba vive do trabalho suado do pai, que aos 73 anos ainda trabalha como servente de pedreiro na construção civil.
Os dois quando saem fazem a festa. Rodam por vários bairros vizinhos à Sacramenta, como Pedreira, Telégrafo, Pratinha, Val de Canos, etc. Ficam zoando de bar em bar, quase todos locais bem conhecidos, tocando, cantando e bebendo, fazendo a alegria de papudinhos, aposentados e até donos de bar que gostam de ouvir os boleros e sambas que os dois levam ao violão.
Zé até que é calmo, com relação a mulheres. Não se sabe nenhum caso de que tenha casado, namorado. Pensavam até que ele era homossexual. Só que ele rebateu. dizendo que "não se mete na vida de ninguém, pra não se meterem na vida dele. "Gosto de minhas coisas bem mais reservadas", disse quando soube que estavam falando mal dele.
Um dia Peba marcou com Zé para saírem e não apareceu. Normalmente marcam as 10 da manhã. Deu meio dia e Peba nada. 
-Vistes o Pebinha por aí, Alcides? -indagou Zé do Violão a uma amigo dos dois.
-Desde ontem que não vejo essa figura.
-Será que ele sumiu do mapa? -indagou novamente Zé.
-Com certeza -respondeu sorrindo Alcides.
Peba estava em outra. Há tempos estava de olho na nova empregada da casa do Seu Walter, um dentista que morava na rua da casa dele. Vânia havia vindo de Bragança já há 15 dias e o Pebinha estava de olho na bragantina, uma morena de boa estatura d bonito corpo.
Havia estudado os passos da moça, que saia à noite para a uma escola no bairro que havia conseguido matrícula. Peba ficava esperando ela sair e já por duas vezes conseguiu conversar com a moça.
-Sou músico, estou tentando gravar meu primeiro disco, já tenho composições. Preciso de um incentivo, que estou correndo atrás, pra realizar meu sonho -falou Peba, ou Paulo César, como se apresentou para Vânia, que sorridente estava se encantando com o baixinho bom de papo.
Peba passou se preocupar mais com Vânia. Não queria que ela soubesse que ele era boêmio, que vivia as custas do pai, que não estudava. Para conquistar a morena bragantina estava jogando todas as suas fichas de bom moço.

GRÁVIDA?  E AGORA?

-Porra Peba. Qual é a tua, mano? Te procurei para caramba nos últimos dias e nem noticia. Saí ontem, tomei todas, mas u sobrou, malandro! -falou Zé do Violão para amigo Peba, três dias depois de muito procurar tendo resolvido ir na casa do parceiro.
-Oi meu camarada. Estou noutra. Tô com uma gatinha aí. Muito ocupado. Mas vamos marcar. Quero ganhar a mina primeiro -respondeu Peba todo animado.
-Frescura essa, rapaz. Virou criança?
Peba conseguiu namorar com Vânia. Não ficava com a pequena por perto orque tinha medo de queimação, que fossem falar pra ela que ele era boa vida, não gosta de trampo.
Preferia se encontrar pelo centro. Para isso pegava dinheiro com seu irmão, alegando que ia procurar emprego. Mas nada. Ia mesmo era se encontrar com Vânia.
Zé do Violão havia, pelo menos por ora, perdido o amigo e parceiro. O cupido havia levado Peba para os braços de Vânia.
As farras de Zé agora eram solitárias, com muita música, muita bebida e pouco papo. Em vez de um ou dois dias, passava de três, Chegou um dia que tiveram que levar ele pra casa, pois estava em estado deplorável depois de entrar no quarto dia consecutivo de farra. E o pior: haviam levado seu violão.
Com menos de quatro meses de namoro, e quase o mesmo período no trabalho,  Vânia foi dispensada do emprego. Os patrões notaram que a moça estava grávida e preferiram mandá-la de volta pra Bragança, já que não queriam ter problema com os pais da garota, que tinha apenas 18 anos.
-Que que eu vou fazer agora Paulo César? Tu vai me assumir?
-Como Vânia? Ainda não conseguiu gravar meu disco, estou sem trabalho...
-Que porra de trabalho! Tu nunca trabalhou. Já me falaram tudo. Vive as custas do teu pai, que é mais lascado que os meus em Bragança! -gritou desaforadamente Vânia, que não aceitava estar sendo rejeitado em um momento tão difícil de sua vida.
-Ei, moleca., manera. Tu engravidou porque quis. Por que tu não tomou remédio? Eu não tenho como resolver -reagiu Peba chateado com o que ouviu da moça.
Vânia se achou na rua da amargura. Não queria voltar pra Bragança porque tinha medo dos pais. Também não tinha parentes em Belém, tampouco amigos.
Por alguns dias, ficou na casa do seu João da Taberna, que a pedido da mulher, dona Vera,  ajeitou uma vaga para a moça dormir.

PEBA PERDEU

Peba, enquanto isso, voltou às farras com Zé do Violão. Agora eles saíam com mais intensidade.
Vânia desapareceu da vida de Peba por uns tempos. Um dia se encontraram. Ele estava em uma mercearia bebendo com Zé do Violão. A barriga já estava bem crescida. Vânia havia se encostado na casa de seu João da taberna e ficara por lá. A relação dela com os donos da casa era era boa, dona Vera, esposa de João, se dava muito bem com a moça. Peba olhou para a imensa bariga de Vânia, criou coragem e perguntou:
-Oi Vânia. Tudo bem com você?
-Bem é? Esse foi o bem que eu ganhei em me meter contigo, canalha! -desabafou Vânia dando as costas par o ex-namorado. 
-Quero ter meu filho e depois ver o que faço de minha vida, Nem me olha mais!-completou Vânia.
Poucos meses depois nasceu Reinaldo, o filho de Vânia. Não quis levá-lo para sequer mostrar a Peba e aos seus pais.
-Meu filho só tem mãe e avós maternos. Não tem pai -dizia sempre para os vizinhos.
Depois do nascimento de Reinaldo, que Vânia levou para Bragança e sua mãe resolveu ficar com ele por uns tempos, ela retornou pra Belém e continuou na casa de seu João da Taberna. O comerciante não tinha filho e  não queria que Vânia deixasse a criança na terra dela. Preferia o garoto a quem se afeiçoara, na casa dele.

O TRIÃNGULO AMOROSO

Vânia conseguiu recuperar a beleza de antes. Estava mais bonita, usava boas roupas, ajeitava unhas e cabelo no salão, embora não tivesse trabalhando.  Sempre saia com dona Vera para o comércio. João, vez por outra, saia com as duas de carro, para um balneário, pra Mosqueiro, para um igarapé. passeava muito com as duas. Dona Vera era muito amiga de Vânia,, que de vez, abandonou até  conversa com Peba, que vez por outra perguntava pelo filho
-Você não é o pai de meu filho. Ele não é registrado com seu nome! -respondeu Vânia uma das vezes em que ele insistiu pra saber do garoto. -E não me perturbe se não vou à delegacia! -finalizou decidida a a encerrar o assunto.
Já decorria um ano que Vânia residia na casa de seu João da taberna, quando estourou a notícia de que Vânia fora vista aos beijos e abraços com o comerciante, na sala da casa dele. Segundo os comentários que surgiram na rua, Vânia estava só de calcinha e seu João estava com ela no colo, abraçado e beijando a moça carinhosamente. Dona vera não estava na cena. 
-Mana, sei não, mas acho que quando a dona Vera ver ou souber, a merda vi feder! -especulava uma vizinha.
-Sei não. Acho que alguém vai perder. E acho que não vai ser a Vânia, não. É mais jovem uns cinco anos de que a dona Vera, acho que ele vai ficar com ela -especulava outra.
A situação continuou. Seu João já andava com as duas abertamente. Pra onde ia um, iam s três.  
Vânia atendia na taberna, ficava no caixa. Dona Vera, ia pra cozinha, atendia aos vendedores. Seu João ampliava o negócio. Boatara um açougue junto com a taberna. Ele ficava mais o açougue e as duas mulheres na taberna.
Um dia, período de carnaval, s três saíram para um e só retornaram pela manhã, tipo 6 horas. Vânia, que havia tirado a carteira, veio dirigindo a lado de dona Vera. Seu João estava deitado no banco traseiro. Chegaram em casa,  seu João acordou e desceu do caro, ainda meio alcoolizado,  abraçado com as duas mulheres, sorrindo e gritando:
-Viva o amor. Viva os meus amores. Viva a minha vida, Vânia e Vera. Vera e Vânia!

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