quinta-feira, 5 de novembro de 2009

AO MESTRE, COM CARINHO

Mestre Verequete se foi. Tudo já foi dito deste menestrel cor de ébano mágico do tambor e do carimbó puro.Sua voz, já cansada pelos 93 anos vividos, e imortalizada nos 10 LPs e alguns CDs lançados, ficará na lembrança dos que o conheceram e amam a genuína música regional desta terra.Verequete era um dos últimos remanescentes do verdadeiro Carimbó feito sem o auxílio de instrumentos elétricos e com letras que retratam a pureza do homem do campo, amante da liberdade e construtor de seus próprios instrumentos.
Esquecendo a tristeza que nos assola, o saldo da vida e obra de Mestre Verequete nao foi ruim. Homem simples, artista realmente do povo, o Mestre teve momentos difíceis em sua vida, principalmente quando teve que labutar diariamente com uma venda de churrasquinhos pras bandas da Estrada Nova.Nem mesmo seu grupo musical, o Uirapuru, lhe proporcionava levar uma vida digna financeiramente.
Quando beirava os 80 anos conseguiu, com sua arte e carisma, chamar a atenção da intelectualidade para o grande valor que tinha. Começou ganhando um salário da Prefeitura de Belém, no governo de Edmilson Rodrigues, e daí começaram os prêmios e o reconhecimento demorado mas não tardio, porque o Mestre felizmente foi imortalizado em vida e curtiu esse reconhecimento, inclusive com loas do presidente da República Lula da Silva e seu ministro da cultura da época, Gilberto Gil. Verequete não precisou colocar em seu carimbó os versos do poeta do samba Nelson Cavaquinho: "por isso é que canto assim: se alguém quiser fazer por mim, que faça agora". Teve um final de vida amado e muito feliz.
O governo do Estado, os artistas paraenses e o povo reverenciaram o artista em vida e, na sua partida todas as honrarias foram feitas. Até outro mestre, Pinduca, presente na homenagem final a Verequete não discutiu quem de fato era o Rei do Carimbó. Achei bom. Afinal, ambos são mestres.
Agora nos resta para presentear aos Mestres Verequete, Lucindo, Cupijó e Pinduca lutar para que o carimbó seja imortalizado como Patrimônio Cultural. Então, isso feito, poderemos, felizes cantar:"Chama Verequete". E com certeza no bom lugar onde o Mestre está ele vai sorrir, cantar e batucar seu mágico tambor. Adios, Mestre!

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