Ontem, após o expediente, fui ao bar onde encontro amigos há pelo menos 12 anos. É aquela conversa da quarta-feira, dia de futebol, embora sem futebol, que nos "obriga" a rever os três ou quatro amigos que antecipam a sexta-feira em um ou dois dias. Tipo a primeira gelada da semana.
Fato raro, ao me aproximar, notei um estranho entre os três amigos que me aguardavam. Parei, e de pé cumprimentei a todos, inclusive o desconhecido, que logo me foi apresentado. Do futebol, da música, da política, do cinema e outros papos parecidos que são contumazes nas nossas conversas etílicas, não ouvi nada. Ouvi sim, uma conversa já beirando a discussão sobre religião.
Confesso que até me espantei, pois se existe uma conversa que não gosto muito é sobre religião. Sou cristão, aquele católico que quase nunca vai à Igreja, mas que, a princípio culturalmente e depois, por decisão própria, teme e respeita um SerSuperior. Mas, também por decisão própria, tenho minhas convicções sobre o Velho e Novo Testamento e acho que esses assuntos são muito pessoais e não se deve "vender", principalmente quem não é profissional da Igreja como os malafaias, os vereadores e deputados que usam a Igreja e a religião para, a meu ver, se locupletarem. Posso ser, do que já até me chamaram, um "comunista cristão". Qual o problema?
Não entrei na conversa, demonstrei toda minha antipatia sobre o assunto, mas fiz questão de fazer um leve comentário sobre o assunto, antes de me afastar até que o desconhecido se tocasse e saísse do meio de quem não é de discutir determinados temas.
-Sou de opinião que o cidadão ser ateu, agnóstico, religioso, papa hóstia ou qualquer coisa que seja, é de sua inteira autonomia e responsabilidade pessoal. Acho que por eu ser ateu ou cristão, não tenho que ficar propagando isso, principalmente em redes sociais. Tem coisas mais sérias e mais interessantes para se discutir ao vivo e pelas redes.
A posição religiosa de cada um só interessa à própria pessoa. Penso que quando alguém fica a propagar que é ateu, falando mal das religiões, da figura dos santos, do papa,e principalmente de Cristo e de Deus, está querendo chocar as pessoas, mostrar que ser religioso, cristão, católico ou protestante, é idiotia. E na realidade não é. Quase todos nós nascemos de uma família religiosa. Poucos nasceram de uma família agnóstica ou de ateus convictos. "Por isso" -concluí com o desconhecido e meus colegas-, "acho que esse papo de religião não vai bem nos nossos encontros etílicos".
Sobre o assunto religião, me estendo agora um pouco mais, reafirmando que a meu ver posição religiosa pouco importa. Se sou ateu, cristão, agnóstico, se gosto de imagens, se sou discípulo de algum santo ou santa, é algo pessoal, só a mim compete. Mais importante, na vida moderna, para qualquer cidadão, é sua opinião e posição política, pois a política está em todos os setores da nossa vida.
Sobre o comentado livro "Um polêmico ateu garante -Deus existe", de Anthony Flew, que foi um dos grandes intelectuais do século XX, que passou a ser ateu quando tinha somente 15 anos de idade, e durante mais de cinqüenta anos foi um ferrenho defensor do ateísmo, acho que sua obra cresceu mais em vendagem pelo fato da exploração comercial da editora sobre o seu próprio assunto. Em 2004 ele publicamente admitiu ter mudado sua opinião religiosa. Isso, partindo de um grande intelectual, é um fato de grande repercussão, embora de sua parte ele tenha tido muita coragem de publicamente afirmar que tinha mudado de opinião. Afinal, Flew, que é considerado um dos grandes filósofos dos últimos cem anos, com sua sua vasta obra filosófica e com profunda integridade intelectual, só poderia criar um grande burburinho na comunidade com sua radical mudança de pensamento.
Ainda não tive o prazer de ler o livro polêmico do ex-ateu que (garante) Deus existe" (Anthony Flew - 11 de fevereiro de 1923 - 8 de abril de 2010).
ResponderExcluirSem qualquer comparação patética, rompi com as ''coisas divinas'' com apenas 8 anos de idade, precisamente ao deixar a igreja, depois da minha primeira comunhão.
Bem, se esse gênio da raça admitiu publicamente ter mudado sua opinião religiosa, vindo de um grande membro da intelligentsia, é ''sintomático''...
Da ciência radical na história do pensamento, o materialismo histórico e dialético, bem, parece, meu caro amigo Marcão, que, como qualquer ''idealista' ', Flew não compartilhava.
Abração!
Mário Gusmão
Com certeza, apesar de Flew ser um dos mais importantes intelectuais do século 20,
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