O golpe militar de 1964, que perdurou por longos 21 anos, foi também muito mal para com a cultura brasileira.
Foram muitos os artistas que foram sacrificados em seu trabalho de criação.
Poetas, compositores, cantores, artistas de cinema, teatro, jornalistas, pintores, arquitetos, escritores, todos foram "punidos" em suas profissões pelos que tomaram as ´rédeas do poder em nome de uma "liberdade" que até hoje não se sabe qual..
Um deles foi o compostor Geraldo Vandré.
Paraibano, Vandré foi para o Rio onde estudou direito onde militou no movimento estudantil e centro acadêmico.
Apaixonado por música, logo fez amizade com compositores com Luis Eça, Carlinhos Lyra, Théo de Barrose outros.
Começou a cantar e sua voz agradou. Foi um dos pioneiros da Bossa Nova, com a batida que ficou famosa no mundo, mas com letras que, ao contrário dos barquinhos, corcovados, violões, falavam da terra, do povo, do sertão, de uma realidade brasileira que ninguém mostrava.
Geraldo Vandré, atualmente aos 78 anos... |
O Brasíl, que em meados de 64 já vivia um regime de força, viu um Vandré rebelde: no compor, no cantar e, principalmente na interpretação diferenciada: mais séria e comprometida com os anseios de uma população que não queria aquele governo de terror, de opressão, ante democrático.
Com a chegada dos festivais Vandré tornou-se uma espécie de ícone, cantando ou compondo, era sempre uma atração.
Em 1966, no Festival da Record, "A Banda" de Chico Buarque, defendida por Nara Leão, foi a grande vencedora do Festival da Canção da Record. Mas a preferida foi a de Vandré, "Disparada". O próprio Chico Buarque, que recebeu a notícia da vitória de sua musica em casa, se negou a receber o prêmio de primeiro lugar, porque achava a música de Vandré melhor. No final aceitou dividir o prêmio de primeiro lugar com o paraibano.
Em 1968, ao defender a música "Pra não dizer que não falei das flores" no "Festival de Música Popular Brasileira", criou um dos hinos da resistência ao regime militar que ficou conhecido pela primeira palavra: "Caminhando". Vandré se viu envolvido em uma nova situação com Chico Buarque: "Sabiá", de Tom Jobim e Chico Buarque, foi declarada vencedora, mas o público se revoltou, pois queria "Pra não dizer que não falei das flores", que acabou ficando em segundo lugar.
Nessa época, a própria crítica não entendeu o porquê da escolha de "Sabiá", que é uma música que até hoje, passados 45 anos, quase ninguém conhece a letra e a música.
"Pra não dizer que não falei das flores" tornou-se um hino contra o regime militar, e sua interpetação no Maracanãzinho se tornou o momento mais emblemático da história dos festivais.
Segundo fontes da imprensa, livros e documentários, Vandré fez acordos estranhos para retornar ao Brasil em 1973.
...e na época dos festivais, discursando e cantando |
A partir de seu retorno, o artista não foi mais o mesmo. Até hoje, beirando os 79 anos, vive em São Paulo e dizem ainda compõe.
Muitos, porém, acreditam que Vandré tenha enlouquecido por causa de supostas torturas que ele teria sofrido pelo governo militar. Em entrevista no ano de 2010, ao jornalista Geneton Moraes, essas especulações foram desmentidas pelo cantor, embora ele, como um certo cidadão tucano, evite falar sobre sua obra da década de 60 e de 1970 nada tenha apresentado em termos musicais e quando fala algo é só para elogiar os militares, principalmente a Marinha.
Pelo movimento popular, estudantil principalmente que aconteceu em 1968, os militares editaram o fatídico AI-5. Políticos, intelectuais, estudantes, artistas, foram obrigados a deixar o país. Dentre eles estava Geraldo Vandré, que foi obrigado a exilar-se, embora antes, segundo notícias da época, tenha permanecido escondido na fazenda de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, viúva do escritor Guimarães Rosa, falecido em 1967.Vandré partir para o exílio no partiu no Chile e, de lá, para a Alemanha e França. ilar-se, segundo jornais da época, depois de passar dias
Vandré mudou. E isso já faz tempo. Mas sua obra até hoje é reverenciada como verdadeiros hinos pela liberdade e contra a opressão. O Vandré de hoje nada tem do jovem guerreiro cultural, do homem que através da música tornou-se uma legenda na resistência à opressão, um ícone pela liberdade.
Semana passada subiu ao palco com uma outra legenda da resistência cultural americana, Joan Baez, segundo a Imprensa, a pedido seu. Mas, mesmo que Baez insistisse, Vandré manteve o silêncio: nada cantou, nada falou.
Diz-se que Vandré "aderiu" forçado e que teria inclusive "pirado" depois de uma entrevista em que apareceu na televisão mostrando-se a"arrependido".Confesso que nunca vi esse tal depoimento.Já li algumas matérias sobre essas especulações e, de fato, o grande cantor e compositor emudeceu depois de retornar ao Brasil."Caminhando e cantando..." o início da bela música de Vandré era o hino oficial das passeatas de 1968 e da época das ocupações das universidades em dodo o país.Muitos eram os que achavam)naquele tempo) o compositor paraibano muito melhor do que Chico, então mais acomodado nas letras das suas músicas.É uma pena que Vandré n~~ao se proponha a contar toda a verdade sobre si.Mas seu silencio também deve ser respeitado.Nada ofusca a grandeza de sua música naquela fase de chumbo do regime militarista.
ResponderExcluirBeleza de comentário, amigo Expedito. De fato, o Vandré deveu nessa de emudecer. Mas acredito na piração, que é, a meu ver, a resposta mais plausível para um artista tão criativo como Vandré de repente -não mais que de repente!- abandonar dom tão grande que ele mostrou desde novo, que é o de compor e também de cantar.
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