Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e
no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise de 2008.
Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente
depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como
contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da
fome. José Serra representa esse ideário. O outro projeto é o da
democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e
todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil.
Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste
projeto. É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de
vinte milhões de votos. O artigo é de Leonardo Boff.
O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros mas não acabados.
Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que
Brasil finalmente queremos?
É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir
de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os
quais pretendem moldar o Brasil.
Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos
repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do
que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar
criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das
maiorias que sempre foram as “humilhadas e ofendidas” e consideradas
“zeros econômicos” pelo pouco que produzem e consomem.
Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência
própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente,
chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do pais, Luiz Inácio
Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica.
Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e
no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise
econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de
todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação,
concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso
das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do
capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as
legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.
O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou
alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar
o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que
aquela existente. Cresceu a multidão dos excluidos. Os pequenos ensaios
de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições
inocultáveis.
Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações,
encabeçados pelo PSDB que sempre estiveram no poder com seus fartos
benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do
neocolonialismo e do globocolonialismo pois sempre se atém aos ditames
dos paises centrais.
José Serra, do PSDB, representa esse ideário. Por detrás dele estão o
agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente
retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo
central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas
sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia
inclusiva.
O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base
social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se
empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para
cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de
democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para
erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um
desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse
projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração
continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no
ganha-ganha e não na truculência do mais forte.
Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão
social de mais de 30 milhões e uma diminuição do fosso entre ricos e
pobres nunca assistido em nossa história. Representou em termos
políticos uma revolução social de cunho popular pois deu novo rumo ao
nosso destino. Essa virada deve ser mantida pois faz bem a todos,
principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade
negada.
Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste
projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer,
pois a chaga social dura já há séculos e sangra.
É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte
milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do
eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular.
Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir
sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para
com a Mãe Terra. Marina em sua campanha lançou esse programa.
Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a
construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das
ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina
Silva.
Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que
reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz
para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.
(*) Leonardo Boff é teólogo (Da Carta Maior).
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