"Esta belíssima análise da politica posta em prática pelo PSDB e pelo candidato José Serra nesta campanha à Presidência da República merece ser lida, relida e que o leitor reflexione sobre o que vem fazendo a oposição, principalmente neste Segundo Turno. A pratica é antiga, remonta de quase 80 anos, período mais triste da história da humaidade, quando Adolf Hitler e seus asseclas no sonho bárbaro de dominar o mundo usou e abusou de todas as manipulações e práticas possíveis de propaganda suja. Milhões de inocentes foram asassinados na época, o mundo ficou chocado com tantas atrocidades. Mas parece que na cabeça de alguns, os mesmos que são adeptos da TFP e de outras organizações nazi-fascistas, as práticas de Hitler e Goebbels ainda continuam vivas e podem ser utilizadas. Rodrigo Guéron, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, mostra neste emocionante ensaio quem são estes filhotes do fascismo".
Rodrigo Guéron
Professor UERJ
Paul Virilio, filósofo e arquiteto francês, conta no seu livro
“Guerra e Cinema” que as primeiras fotos que correram o mundo com alguns
dos horrores dos campos de concentração nazistas foram distribuídas por
ordem do próprio Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Em
seguida, Goebbels divulgou uma nota à imprensa do mundo inteiro
declarando-se “horrorizado com o tipo de propaganda que fazem contra nós
estes comunistas e judeus”.
Enquanto John McCain, o candidato conservador à presidência dos
Estados Unidos, recusou alguns ataques fundamentalistas a Obama em
certos momentos da campanha eleitoral, no Brasil José Serra alimenta e
navega satisfeito na onda de difamações, calúnias e terror psicológico
contra a candidatura Dilma Roussef. Sua campanha, depois de trazer o
fundamentalismo religioso para o debate eleitoral, de colocar sua mulher
na rua dizendo que a Dilma “mata criancinhas”, usou uma manchete
mentirosa do Globo que dizia que a Dilma ia assinar um documento contra a
União Civil Gay (o que não aparecia no próprio corpo da notícia) para
posar de “ liberal” e dizer que era a favor dessa união.
Ontem, a polícia federal entrou numa gráfica que imprimia mais de 2
milhões de panfletos que acusavam a Dilma de “aborteira”, falsamente
assinados pela CNBB, mas feitos por ordem de um bispo ( com dinheiro de
quem?). Enquanto isso Serra e Tasso Jereissati ( que acaba de ser
derrotado na eleição para senador) iam a uma missa no Ceará onde
panfletos semelhantes eram distribuídos ( neste caso diziam que a Dilma
era “ aborteira”, que tinha ligações com as Farcs, era corrupta etc e
tal). Um padre se indignou, disse aos fiéis que aqueles panfletos não
tinham nada a ver com a igreja e com aquela celebração ( que era para
São Francisco…). Jereissati então começou a ofender o padre, chamou o de
“padre petista” e militantes do PSDB foram atrás do religioso que teve
que sair da igreja protegido.
Quando Lula reclamou dos ataques que Dilma tem sofrido da imprensa,
quando disse que esta age como partido político e que tem candidato, mas
se apresenta como “imparcial”, foi acusado de ser “contra a liberdade
de imprensa”. Por outro lado ninguém viu no jornal Nacional, nem no
Globo, nem na Veja (uma pequena nota na FSP), que Serra mandou desligar a
câmera numa entrevista para a jornalista Marcia Peltier, dizendo que
aquele tipo de pergunta não respondia, que ia embora e era para fingir
que ele não tinha estado ali. As imagens do Serra fazendo isso foram
entregues ao próprio pela direção da CNT ( que vergonhoso gesto para um
jornalista…), mas o áudio, gravado no celular de um outro jornalista que
estava na platéia, está na rede.
Imaginem se fosse a Dilma que tivesse mandado desligar a câmera?
Íamos ver as imagens repetidamente no Jornal Nacional e similares
durante dias. Dilma é então acusada de ser uma “ameaça a liberdade de
imprensa” por aqueles que censuram, manipulam e até inventam fatos
contra a sua campanha. O fascismo sempre agiu assim, acusa os outros do
que está fazendo. Goebels, como vimos, pousou de vítima dos judeus e
comunistas que estava exterminando.
Dilma também foi acusada, no início da campanha, de “mandar preparar
dossiês contra Serra e a sua família”: dossiês que ninguém leu. Enquanto
isso os que fizeram essa acusação despejam um dossiê gigante e
ininterrupto de calúnias contra ela. A tática de propaganda fascista é
esta da confusão, da acusação, da repetição de uma mentira sistemática
até virar verdade, da demonização e escolha de bodes espiatórios. O
fascismo é violento não apenas porque mente e cassa a palavra das
pessoas ( como houve com Maria Rita Kehl, demitida do Estadão apenas por
ter escrito que a elite brasileira não admite que os votos dos pobres
tenham o mesmo peso que os dela); é mais do que isso: o fascismo usa uma
estratégia de afetos de medo e ódio, disseminando-os de forma que cada
uma das pessoas se torna não apenas vítima, mas agentes mesmo deste
afetos: é uma mobilização política que passa por dentro dos corpos, dos
desejos, do sistema nervoso das pessoas, e ganha essa dimensão macro
porque é antes micropolítica. Fascismo não é apenas proibir as pessoas
de dizer ou fazer algo, fascismo é forçá-las a falar e fazer algo.
Cada uma das grandes corporações de comunicação do país, onde
predominam 4 ou 5 famílias oligárquicas ( os Marinhos, os Frias, Os
Mesquita, os Civita…) foi fundamental na mobilização entre as classe
médias e as elites que levou ao golpe militar de 64, com uma estratégia
muito semelhante a usada hoje pela campanha Serra. A exceção é a não
menos proto fascista revista Veja, simplesmente porque não existia na
época. Estes grupos cresceram e se solidificaram no Regime Militar,
enquanto os que se opunham ao Regime desapareceram ( por exemplo o
“Ultima Hora”, e também o “ Correio da Manhã” que chegou a apoiar o
golpe mas começou a fazer oposição aos militares logo depois). Ainda
nesta tática de confusão da propaganda, estas corporações de comunicação
apresentam-se como grandes vítimas da ditadura. De fato, a partir do
final de 68, no AI-5, instalaram-se nas redações censores oficiais do
regime. Mas antes, nos primeiros quatro anos que se seguiram ao golpe
que ajudaram a promover (entre 64 e 68), cada um desses “veículos de
comunicação” apoiava e promovia a onda de prisões e cassações que
acontecia entre líderes políticos, sindicais, professores (expulsos das
universidades) e assim por diante . As organizações Globo, como sabemos,
foi mais longe de todas: de 1966 até o início dos anos 80 lia um
editorial todo dia 31 de março no Jornal Nacional relembrando e apoiando
a “ os ideais da revolução de 64” .
É esta gente e esta estratégia que quer derrotar a qualquer preço a candidata Dilma Roussef
E aqui talvez para não abusar do leitor, eu deveria encerrar meu
texto. Mas não consigo não acrescentar mais um parágrafo para falar do
quanto o golpe de 64 teve a ver com o ódio e o medo que causava nas
elites a participação de trabalhadores na política que na época crescia a
cada ano (o discurso da “ameaça da república sindical” repetido por
Serra agora), de como o Brasil começava a se democratizar e os
sindicatos conseguiam alguns ganhos para os trabalhadores, do fato do
problema de origem escravocrata da concentração da terra ( e das
relações de trabalho) ter sido colocado em questão pelas ligas
camponesas e como Jango foi acusado de “comunista” por ensaiar um tímida
reformas agrária, e de como Paulo Freire (um dos primeiros intelectuais
presos depois do golpe) sofreu a mesma acusação por liderar um programa
que alfabetizou 400 mil pessoas em Pernambuco, e assim por diante. E o
mais notável: como que nos anos de grande crescimento econômico do
regime militar a miséria do país só aumentou? Como o Brasil terminou
este período como a nação industrializada mais desigual do mundo?
Não dá para separar a violência política do regime militar da
violência do modelo econômico. Assim como não dá para separar a
violência contra a candidatura Dilma da violência contra os pobres; e
também da violência contra as mulheres; a propósito foi no governo Lula
que foi criada e aprovada a lei Maria de Penha.
Não há neutralidade possível nas eleições do dia 31 de outubro para quem busca um Brasil mais justo, solidário e democrático. (Do Viomundo)
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