segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Será que a culpa é da enfermeira?

Antigo adágio popular diz que "a corda quebra sempre no lugar mais fraco", o que significa dizer que sempre o mais pobre, o mais humilde, em qualquer situação, é quem "paga o pato". No caso da menina Stephanie Teixeira, que na semana passada morreu acidentalmente em São Paulo, depois da enfermeira Cátia Aragaki injetar vaselina em vez de soro em sua veia, parece que a máxima vai continuar. Pelas manifestações de autoridades hospitalares, como o presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-SP), Cláudio Alves Porto e da própria Agência de Vigilãncia Sanitária (Anvisa),  o erro da enfermeira não tem desculpa. Cátia Aragaki, de 26 anos, em duas entrevistas que deu, lamentou profundamente o acontecido, e diz que sente o problema na pele porque também é mãe.  
A enfermeira recorda que ao ver a menina com virose, tratou logo de levá-la para a sala de hidratação para que as médicas atendessem direto lá. Cátia falou que foram receitados dois litros de soro, com remédio e glicose. Ela relatou que após começar a tomar os remédios, a garota teve uma reação de melhora logo. Como tinha pouco soro na sala, a enfermeira tratou de pegar mais soro no depósito. Pegou duas garrafas com embalagens iguais e colocou a terceira e última dose na veia de Stephanie. Foi fatal. Na garrafa que Cátia supunha estar o soro para salvar a vida da garota, infelizmente continha vaselina e levou Stephane à morte.
Numa situação dessas todos querem encontrar o culpado ou os culpados. Está evidente que a enfermeira não é uma criminosa e nunca jamais pensou em matar Stephanie. Ela pode ter sido induzida a cometer o erro, pois os recipientes eram iguais. Só que para a mãe de Stephane "tem que haver justiça". Mas será que é fazer justiça prender a enfermeira, condená-la? Será que o laboratório que produz o soro, o hospital ou os encarregados do depósito onde ficam os remédios (almoxarifado), não têm até mais culpa pelo acontecido? 
Embora a Anvisa diga que não existe regra para formato ou cor de embalagem de remédios, apenas existe para os rótulos, não seria mais responsável uma mudança de cor, de tamanho ou mesmo de cor dos rótulos nas embalagens? Será que se o procedimento fosse diferente, digamos, cor diferente das embalagens ou rótuilos, a morte de Stephanie não teria sido evitada? E quantas outras mortes ou acidentes não acontecem ou aconteceram por falata de apenas alguns detalhes, fáceis de serem resolvidos?
Para o advogado da enfermeira Cátia Aragaki, Roberto Vasconcelos, ela não pode ser condenada. "Não podem duas coisas idênticas estar em um lugar totalmente inadequado, como um sala de hospital", diz o causídico. Segundo ele, deveria, pelo menos, ter uma tarja diferente para diferenciar um remédio do outro.
Em entrevista, a enfermeira Cátia, que além do emprego poderá perder seu registro profissional, diz que sua vida acabou. "Meu trabalho é a coisa que mais gosto de fazer, mas mesmo que não me aconteça nada, não sei se terei coragem de continuar trabalhando". 
Nem Anvisa, nem a direção ou chefias da Santa Casa de São Paulo, nem  laboratórios, ninguém na verdade vai ficar ao lado da enfermeira. Ela já foi julgada. A própria mãe de Stephanie, que é quem sente na verdade a maior dor, já declarou: "minha filha, pelo olhar dela no caixão, já a perdoou. Mas eu não".
Frascos iguais para vaselina e soro.
O lamentável neste caso é que os erros médicos, as barbeiragens, acontecem todos os dias. Em qualquer profissão existem os erros. No caso dos médicos, eles  têm um Conselho forte à nível regional e nacional. São quase intocáveis. O Coren, que é o Conselho de Enfermagem, poderia pelo menos apurar melhor e ver, realmente, quem tem culpa no caso da garota Stephanie e observar os milhares de outros casos que acontecem no Brasil.  Só não poderia era abandonar, de maneira nenhuma, tampouco acusar a enfermeira. de irresponsabilidade ou negligência. Tem que haver justiça. Mas justiça realmente.


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