segunda-feira, 20 de maio de 2019

TUNA PERDE EX-PRESIDENTE GB FRANCISCO MOREIRA PACHECO


 OS GBs Francisco Pacheco, João Rito e este escriba
Fomos surpreendidos esta manhã com a lamentável notícia do falecimento do nosso querido amigo  ex-presidente da Tuna Luso Brasileira, GB Francisco Moreira Pacheco. Seu Pacheco, como o chamávamos,  foi Contador de várias empresas de Belém, tendo mantido por muitos anos seu escritório no bairro da Campina, onde recebia clientes e amigos sempre com uma elegância e uma simpatia impar. Eu próprio o visitei várias vezes, e sempre ele estava pronto para nos tirar uma dúvida e orientar sobre qualquer problema alusivo à Tuna Luso Brasileira.
Cruzmaltino histórico, Seu Pacheco, que possuía o título de sócio mais antigo da Tuna,  como atleta foi remador, tendo convivido ao lado de famosos de sua época como Manoel Cristino, Orlandino Ventura, Manoel Henriques dentre outros e foi um torcedor apaixonado da equipe da Tuna Luso Brasileira por mais de 70 anos.
Francisco Pacheco foi presidente da Tuna no biênio de 1989 e 90, tendo sido também presidente do Conselho Deliberativo e da Assembleia Geral, e em todos o setores da administração cruzmaltina, foi sempre um exemplo de seriedade e respeito.
Quando saímos candidato à presidência da Tuna, fomos primeiro anunciar nossa decisão, ao lado do companheiro João Rito, que também já se foi, que era um dos maiores amigos de Pacheco. Depois, voltamos algumas vezes para mostrar nossas propostas e lhe presentear com um folder e uma camisa da campanha.
Muitas vezes fomos apanhá-lo em seu apartamento para as reuniões do Conselho Deliberativo da Tuna Luso Brasileira, e em algumas oportunidades apanhava também o GB Manoel Henriques, que também já nos deixou. Achava interessante a conversa deles dentro do carro. Pacheco sempre muito calmo, relembrava com Manoel Henriques os tempos deles jovens na Tuna, nas regatas e nas brincadeiras. Vale lembrar que os dois se conheciam e eram grandes amigos desde bem jovens, e nas conversas sorriam e falavam de suas aventuras juvenis.
Ultimamente, já com a idade um pouco avançada e com alguns problemas de saúde, Seu Pacheco não estava mais indo à Tuna, tampouco participando das reuniões do CONDEL
mas era sempre lembrado, principalmente por quem teve o privilégio de conhecê-lo e ter a felicidade de tê-lo como amigo.
Para nós, apaixonados pela Tuna, que tivemos a graça e o prazer de conhecê-lo e de conviver embora pouco com sua elegância e grandeza como cidadão, Francisco Moreira Pacheco certamente fará muita falta, tanto pelo seu elevado espírito de grande gestor, como também pela sua dedicação, respeito e amor à Tuna Luso Brasileira.
Presidente Pacheco, muito obrigado por seus ensinamentos. Descanse em paz, Sr. GB Francisco Moreira Pacheco.

sexta-feira, 22 de março de 2019

TODO MUNDO AMA (OU ODEIA!) CAETANO VELOSO

O maior nome da Música Popular Brasileira definitivamente é Belchior: Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes. Até ai tudo bem. Ganhou a taça. Mas se pararmos para analisar, pensar bem,  Caetano Veloso bate na trave, ou melhor, quase empata com o cearense. Filho de Santo Amaro da Purificação, Bahia, além de ter também um dos nomes mais extensos de nossa MPB, (Caetano Emanuel Viana Telles Veloso), o filho de Dona Canô é talvez o mais chato, o mais amado, o mais odiado, o mais polêmico, o mais endeusado, o mais tudo. O mais danado também.
Caetano foi o primeiro artista brasileiro a ter coragem de andar pelas ruas e fazer shows de vestido, mostrando, há quase 50 anos, seu lado bem feminino. Nos festivais da TV Record cantou música brasileira acompanhado de um grupo argentino de rock à base de guitarras, indo contra tudo e contra todos, até um grupo de músicos e artistas -inclusive seu amigo Gilberto Gil- que foi às ruas protestando contra a guitarra elétrica que estava sendo introduzida na Música Brasileira.
Em 1968, com Gil, Mutantes, Tom Zé, maestro Rogério Duprat, liderou um movimento musical/político/cultural chamado Tropicália, fazendo fazendo na oportunidade um famoso manifesto quando recebeu vaias em um festival.
Nesse período, final dos anos 60, exilou-se em Londres, onde fez shows com hippies, undergrounds, grupos mambembes de rua, gravou em inglês, mostrou toda sua insatisfação por estar fora de seu país, fazendo uma verdadeira geleia geral de sua vida ao lado de amigos e de sua mulher na época, a atriz Dedé Gadelha. Depois de muitas conversas, acertos com os militares,  conseguiu voltar para o Brasil. Estava, como disse em entrevista da época, que estava morrendo de saudades do Brasil.
De volta ao Brasil Caetano não ficou um bichinho manso, ou seja, o leãozinho de sua música. Voltou a ser o mesmo inquieto, o polêmico de sempre, mostrando em seus discos letras românticas, apaixonadas, críticas, algumas metafóricas mas sempre com algo mais para deixar seus amantes e inimigos prontos para abrir o escarcéu de discussões envolvendo seu nome.
Mas no período, Caetano, temos que ser honestos em reconhecer, continuou o incansável em sua performance como artista. Através de letras e músicas criativas e emocionantes, mostrava uma poesia moderna e ao mesmo tempo cheia de sutileza e sensibilidade, em algumas rasgava seda com afeto por dois grandes amigos, Roberto Carlos e Gilberto Gil. Enquanto anunciava sua separação de Dedé, voltou os olhos para sua outra grande paixão, o Cinema, e investiu de com força na literatura. Comprava brigas pessoais por seu excesso de baianidade e seu visível fascínio por João Gilberto e Dorival Caymi.   Discutia através da Imprensa com grupos  que cobravam posições políticas sua.
Deixava claro que, como colocou em uma música sua, "gente nasceu pra brilhar", e era isso que ele queria: se mostrar, queria ser estrela, sempre.
Namorava a esquerda e flertava com o centro direita. No meio do caminho, a fogueira das vaidades aparecia e ele  soltava a sua inflamante verborragia e anunciava sua decepção com todos os políticos  e com tudo. Ao mesmo tempo em que abraçava Fernando Henrique e dizia que não votaria em Lula., contrariava amigos, mas dizia que uma coisa não óde ser comparada a outra. Era seu lado anarquista que ele apresentava à mídia. Mas voltava sempre atrás em suas posições quando surgia um fato e ele achava que poderia faturar em torno de imagem.
Os mais chegados não estranhavam o filho de Dona Canô. "Caetano sempre foi assim. Nunca deixou de procurar a mídia para si", diziam os inimigos mais íntimos.
Quando produziu e fez um disco cantando só sucessos latinos, recebeu críticas positivas e muito mais negativas, já que parte da crítica  disse que ele estava sofrendo de falta de inspiração. Tascava na hora uma resposta e se jogava com um sucesso no carnaval baiano ou uma música de Orlando Silva.
Mas Caetano, na verdade, sempre foi essa pessoa mesmo como os mais íntimos falavam. Gostava de expor sua genialidade e suas diabruras. 
Lançou artistas: Maria Gadu,  Carlinhos Brown e no meio do caminho se apaixonou por uma fã, uma garota de menor idade, com quem depois casou e teve um filho. Fechou shows pelo mundo, e nos EUA recebeu visitas no camarim de grandes nomes da música americana, que o reverenciaram. Fez músicas para filmes do diretor espanhol Pedro Almodóvar, de quem tornou-se grande amigo e recebeu elogios emocionantes.
Em um filme documentário sobre sua vida e sua arte, respondeu sorrindo sarcasticamente a um comentário do múltiplo artista Hermeto Paschoal que haveria dito em uma entrevista que "Caetano era um excelente letrista e compositor, mas um péssimo músico". A respostas jocosa: "Obrigado grande Hermeto. Partindo de você  tudo é válido". Depois, em uma música em que fala de  Ray Charles, Steve Wonder e Cole Porter,  diz que "o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem".
Esse é Caetano. Um artista cheio de versatilidade. Um intelectual das artes brasileiras. Amado, odiado, mas com um talento maravilhoso. Um homem, já um senhor, um mito real, que prestes a comemorar 77 anos continua na mídia, falando, cantando só ou ao lado dos três filhos. Fazendo das suas, pulando carnaval na Bahia em seu trio e no dos amigos. Um ser diferenciado, incansável. Um poeta de seu tempo. Um danado. Ou mesmo, como diria aquele meu grande amigo:
"Caetano é doido".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

MEIO CHATO, MAS COM BOM GOSTO

Tem uma explicação eu gostar tanto de música, ao ponto de não passar um dia sequer sem ouvir, falar, comentar, discutir, etc. Na minha casa, ou melhor, na casa de meu pai, sempre se ouviu muita música, e desde que passei a me entender, sempre teve instrumentos musicais. Meu pai gostava de cantar e foi um aficionado por musica, tendo aprendido de ouvido a tocar Violão, Gaita ou Harmônica e um pequeno instrumento de fole que parecia uma sanfona. Não sei se  tinha baixos com a pequena Sanfona de Januário, pai de Luiz Gonzaga, mas o som era de uma sanfoninha.
Papai tocava os três instrumentos e ainda aprendeu a "arranhar" no velho Piano e na Sanfona grande de seu Alfredo, primo dele em segundo grau, que era músico de uma famoso conjunto musical e marceneiro nas horas vagas.
Na verdade o que papai era mesmo era muito curioso. Aprendeu, segundo ele, tudo de ouvido e com muita força de vontade. Amanhecia o dia e lá estava papai tocando sua Gaita. Eram hinos evangélicos como "Breve virá" e músicas antigas, como  "Casinha branca do pé de serra". Gostava também de "Flor de Anair" e algumas de Roberto Carlos. Eu, meio curioso também, embora não tenha aprendido a tocar nem um dos instrumentos caseiros de papai, era metido a cantar ele acompanhando.
Quis até fazer uma dupla com minha irmã Julinha!

QUASE MÚSICO

Na minha casa, era natural sempre aparecerem violonistas do bairro para pedir para o papai "afinar" o Violão. Ele, orgulhosamente mexia nos cravos do instrumento, tocava alguma coisa e passava para o dono. Não sei se ganhava alguma coisa com isso. Só sei que ele fazia tudo de ouvido. O velho era um danado!
Teve um período, quando eu já estava tentando entrar na adolescência, época de curtição de Beatles, Rolling Stones, Renato e seus Blue Caps, que eu queria de qualquer maneira formar um conjunto musical. Minha intenção, do Aldo e do Quinquim era formar um grupo principalmente para ganhar as meninas, que gostavam dos cabeludos que tocavam e cantavam.
Sem dinheiro pra poder comprar os instrumentos e até aprender a tocar, nossa única saída foi mentir para as meninas que a gente queria namorar, alegado que nossos pais não deixaram a gente formar o conjunto (não tinha essa de banda. Banda era militar ou escolar) para não atrapalhar nosso rendimento na escola. Mentirosos que só!
O tempo passou e logo cedo comecei a me desinteressar por conjuntos musicais e me focar mais nos artistas que chegavam mudando a história da MPB nos festivais, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gil, Tom Zé e Geraldo Vandré, um paraibano que parecia cantar os sentimentos do povo nordestino de uma maneira nova, diferente, com coragem e com muito tesão.
Desde esse período, fiquei meio fanático pelos artistas da MPB. Esqueci até um pouco meus heróis internacionais como Alice Cooper, Emerson, Lake e Palmer, Genesis,  Rolling Stones, Carlos Santana, David Bowie e muitos outros. Passei a me dedicar aos novos valores da música brasileira,
valorizando principalmente ao trabalho dos jovens que surgiam na música e na poesia no Norte e Nordeste como Ednardo, Zé Ramalho, Alceu, Geraldo Azevedo, Amelinha, Belchior, Rui Barata, Fagner, Fafá, Caetano, GiI, etc. Fazia uma ligação e ao mesmo tempo um comparativo da nossa produção com o que era feito lá, como o pessoal do Clube da Esquina de Minas, os irmãos Kleyton, Kledir  e Vitor Ramil, Chico Buarque, Ivan Lins e muitos outros.
Virei um apaixonado pela nossa música. Hoje pouco ouço música internacional, apesar de ainda ter alguns Ps e CDs. Minha praia é sempre nossa música. Lamentando porque, a meu ver,  pouca coisa boa surge. Mas vez por oura aparece. Mas me confesso sempre aberto para as coisas novas que me agradam. Sou  meio chato, mas sei, sem modéstia, que tenho um bom gosto.

TARZAN E AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Como todo garoto e jovem que viveu nos anos 60 e 70, sempre fui apaixonado por historias em quadrinhos e por cinema. Adorava quando chegava o final de semana para receber uma ou duas revistinhas e para ganhar o dinheiro de meu pai, Seu Moraes, para ir ao cinema, matinal ou matiné no sábado ou domingo. Ia sozinho ou com um de meus amigos, que "filava" também o pai para o cinema do fim de semana.
Colecionava revistas de todos os heróis da época que, ao contrário dos dos anos 90 e de agora, que são ainda mais fictícios, super heróis, americanos ou japoneses, a meu ver confusos e sem a emoção que tinham os de minha infância.
Calma que eu não quero fazer comparações. Mesmo porque não dá, né?  Mas os meus heróis iam de Buck Jones a Hopalong Cassidy. Búfalo Bill e Jerônimo, o herói do sertão. Tinha também o valente Durango Kid e o Kid Colt. Eram muitos kids, mas confesso que eu gostava muito. 
Mas meu herói maior foi mesmo o Tarzan. Culpado disso? Meu pai.

TARZAN ERA O CARA

Tinha mais ou menos 11 anos quando papai me levou para o cinema, e Fortaleza, o Cine jangada. O filme, inesquecível, foi "Tarzan, o filho das selvas", se não me falha a memória com Steve Reeves ou com o genial Johny Weyssmuller, a meu ver o maior ator que fez o Tarzan em todos os tempos.
Fiquei apaixonado pela destreza, força, domínio e carisma com os animas, jeito de viver feliz em plena selva africana e mais, seu filho Boy, com Jonhy Sheffield no papel e sua linda mulher Jane, sempre estrelada pelo bonita Brenda Joyce.
Tinha coleções também das revistas Luluzinha, Bolinha, Mickey e Pateta, Sobrinhos do Capitão (ups!), Recruta Zero, Mônica e Cebolinha. Passava o ano esperando os fantásticos Almanaques de final de ano. Sempre mais caros, passava duas semana sem receber as revistas pra pegar o Almanaque de final de ano, principalmente o do Tio Patinhas, um milionário que ficou rico a partir de um ovo.
Doa heróis ou super heróis que povoaram minha infância o que ainda eu gostava mais ou menos era o Super Homem. Gostava porque o Clark Kent era jornalista, embora tenha tido toda curiosidade que um garoto possa ter para saber como um homem comum, como o tímido jornalista Kent, se tornava um homem tão forte, vigoroso, capaz de voar. Nunca me responderam minhas perguntas. 
Tinha um cinema também que passava famosas séries. Eram pedaços de histórias seriadas, que deixavam sempre a gente de água na boca pelo próximo episódio. Acho que é por isso que eu não sou muito fã do Netflix, porque o que vi de série na minha infância e juventude, não tá no gibi. Foram muitas!
Tentei ser saudosista, voltar ao tempo de infância, experimentando rever algumas coisas de cinema que vi quando jovem. Foi há alguns anos quando comprei dois ou três filmes de Tarzan que já havia visto há dezenas de anos.
Sinceramente como foi uma experiência que não deu certo. Não tive mais nenhum apetite de rever o meu ídolo maior, Tarzan. Comecei a ver o primeiro e não senti emoção nenhuma. Não quis mais. Preferi ficar com a emoção maior dentro das minhas lembranças de criança

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

EM TEMPOS DE CARNAVAL

Nunca fui um grande folião. Mas sempre tive uma grande paixão pelo carnaval, principalmente pelas  músicas carnavalescas. Tanto que tenho no meu baú de memória as mais belas marchinhas de carnaval, seus autores, cantores e inclusive a figura de alguns deles na mente. Mas não é pra me pavular muito não, porque na verdade pesquisei muio isso em outros tempos. Mas tive que gostar para aprender, gravar e não esquecer.
Por exemplo: se falar de cantores como Roberto Audi, Blecaute, João Dias poucos conhecerão ou se lembrarão. Mas todo ano eles apareciam com uma marchinha deles ou do João Roberto Kelly, a meu ver, o maior craque em músicas de carnaval.
Outros que todos os anos também davam o ar da sua graça em período de Momo eram a Emilinha Borba, o Jackson do Pandeiro, Chacrinha e o grande Zé Keti. que quando fazia uma Marcha Rancho arrebentava.

 O INCRÍVEL ZÉ KETI

Sobre Zé Keti lembro até de uma historinha pequena, mas que nunca me saiu da memória. Tinha eu mais ou menos tipo uns 10 anos quando fui pra escola e parei em uma banca de revista para ver e ler as manchetes dos jornais, antigo costume que tenho desde criança essa paixão maluca por jornais.
Uma das manchetes me chamou a atenção: "Zé Keti internado depois de cantar mais de 100 vezes "Máscara negra". Me interessei pelo título e peguei o jornal que estava pendurado na banca e li o texto.
Zé Keti havia sido convidado par ser a grande atração de um baile de carnaval e nesse baile depois de cantar várias de suas músicas, foi intimado a cantar seu maior sucesso carnavalesco, Mascara negra, o público insistiu e ele quase não parou mais de cantar. Foi preciso um mau súbito no artista, que o levou ao hospital para ele parar. Mas já era quase 5 a manhã, segundo a notícia.
Para que os mais novos saibam, antigamente em todos os lugares no período carnavalescos haviam festas. Até nas próprias casas de família haviam as festas. Nos clubes, suburbanos e sociais, os bailes eram os três ou quatro dias seguidos. Sem se falar no famoso carnaval de rua em que além dos blocos, clóvis, palhaços, arlequins e colombinas, haviam os famosos blocos dos sujos, que poderia ser um grupo de amigos e amigas, ou até mesmo os brincantes solitários que inventavam uma fantasia, que poderia ate ser de uma roupa feminina,  e saiam pela avenida cheio de cachaça e animação.

BLOCOS DE SUJOS

Quem nunca teve um amor de carnaval? Dizem que amor de carnaval desaparece a fumaça. Acho que isso é muito relativo. Eu, confesso  (em off!) que já tive algumas paixões carnavalescas.
Mas como citei no início, sempre fui um folião basicão. Sou (ou era) daqueles que levantavam os dois dedos alternadamente, sorrindo e balançando a cabeça, isso pra mim já estava ótimo. Também no clube, ia sempre contra as filas dos foliões, ou seja, olhava sempre na cara dos outros.
Acho lindo quando vejo os blocos de ruas, de sujos ainda resistirem antes do carnaval propriamente dito em Belém. Às vezes tenho vontade de ir pra rua justamente nestes bailes pré-carnavalesco que acontecem aos sábados, de me fantasiar de qualquer coisa e botar meu bloco na rua.
Mas uma coisa me cutuca mais forte e me impede. Não que ache que antes os perigos eram menores. Tudo no seu devido tempo. O que acontece é que o que antes era uma onda, hoje pode ser um tsunami. Aí talvez eu não dê conta de nadar tanto e tão rápido pata chegar a um porto seguro.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

TRIÃNGULO AMOROSO

José Maria Vieira, o Zé do Violão, nunca trabalhou na vida. Pelo menos, é o que se sabe. Com quase 40 anos, só fez bico na vida, e olhe lá!
Morou sempre com a mãe e os irmãos, que foram casando, saindo de casa e o Zé foi gostando e foi ficando. Tanto que dos cinco irmãos Zé é  único que mora com dona Zélia, que aos 81 anos é quem ainda segura toda a onda de casa.
Zé ficou como uma espécie de cuidador da mãe, que recebe uma pensão e uma aposentadoria. Ele é quem recebe toda a grana da mãe,  e é quem administra a vida de dona Zélia, comprando alguns remédios, alimentação e faz a sua farrinha quase toda semana, basta ter um parceiro.
Zé sempre foi um cara mais dedicado ao violão que aos estudos, por isso o apelido. A bebida vem logo em seguida. Desde garotão que bebe muito e é sempre chamado pelos amigos para uma boa farra, contanto que leve o violão.
Nunca tentou viver de música, seguir uma carreira. Hoje, veterano, descarta isso. Prefere a vidinha que leva.

PEBA, O GRANDE AMIGO

Um de seu maiores amigos,  com quem sempre faz farra, é o Paulo César, apelidado de Peba, por ser baixinho, entroncado. Peba é também bam bam bam no violão. Junto com Zé do Violão fazem uma dupla que toda semana tira dois ou três dias só para farrear. 
A semelhança de Peba com Zé do Violão é que ambos não são muito chegados ao trabalho. Os pais de Peba são bem mais modestos do que os de Zé. Enquanto Zé não tem pai mas a mãe tem uma pensão e aposentadoria, Peba vive do trabalho suado do pai, que aos 73 anos ainda trabalha como servente de pedreiro na construção civil.
Os dois quando saem fazem a festa. Rodam por vários bairros vizinhos à Sacramenta, como Pedreira, Telégrafo, Pratinha, Val de Canos, etc. Ficam zoando de bar em bar, quase todos locais bem conhecidos, tocando, cantando e bebendo, fazendo a alegria de papudinhos, aposentados e até donos de bar que gostam de ouvir os boleros e sambas que os dois levam ao violão.
Zé até que é calmo, com relação a mulheres. Não se sabe nenhum caso de que tenha casado, namorado. Pensavam até que ele era homossexual. Só que ele rebateu. dizendo que "não se mete na vida de ninguém, pra não se meterem na vida dele. "Gosto de minhas coisas bem mais reservadas", disse quando soube que estavam falando mal dele.
Um dia Peba marcou com Zé para saírem e não apareceu. Normalmente marcam as 10 da manhã. Deu meio dia e Peba nada. 
-Vistes o Pebinha por aí, Alcides? -indagou Zé do Violão a uma amigo dos dois.
-Desde ontem que não vejo essa figura.
-Será que ele sumiu do mapa? -indagou novamente Zé.
-Com certeza -respondeu sorrindo Alcides.
Peba estava em outra. Há tempos estava de olho na nova empregada da casa do Seu Walter, um dentista que morava na rua da casa dele. Vânia havia vindo de Bragança já há 15 dias e o Pebinha estava de olho na bragantina, uma morena de boa estatura d bonito corpo.
Havia estudado os passos da moça, que saia à noite para a uma escola no bairro que havia conseguido matrícula. Peba ficava esperando ela sair e já por duas vezes conseguiu conversar com a moça.
-Sou músico, estou tentando gravar meu primeiro disco, já tenho composições. Preciso de um incentivo, que estou correndo atrás, pra realizar meu sonho -falou Peba, ou Paulo César, como se apresentou para Vânia, que sorridente estava se encantando com o baixinho bom de papo.
Peba passou se preocupar mais com Vânia. Não queria que ela soubesse que ele era boêmio, que vivia as custas do pai, que não estudava. Para conquistar a morena bragantina estava jogando todas as suas fichas de bom moço.

GRÁVIDA?  E AGORA?

-Porra Peba. Qual é a tua, mano? Te procurei para caramba nos últimos dias e nem noticia. Saí ontem, tomei todas, mas u sobrou, malandro! -falou Zé do Violão para amigo Peba, três dias depois de muito procurar tendo resolvido ir na casa do parceiro.
-Oi meu camarada. Estou noutra. Tô com uma gatinha aí. Muito ocupado. Mas vamos marcar. Quero ganhar a mina primeiro -respondeu Peba todo animado.
-Frescura essa, rapaz. Virou criança?
Peba conseguiu namorar com Vânia. Não ficava com a pequena por perto orque tinha medo de queimação, que fossem falar pra ela que ele era boa vida, não gosta de trampo.
Preferia se encontrar pelo centro. Para isso pegava dinheiro com seu irmão, alegando que ia procurar emprego. Mas nada. Ia mesmo era se encontrar com Vânia.
Zé do Violão havia, pelo menos por ora, perdido o amigo e parceiro. O cupido havia levado Peba para os braços de Vânia.
As farras de Zé agora eram solitárias, com muita música, muita bebida e pouco papo. Em vez de um ou dois dias, passava de três, Chegou um dia que tiveram que levar ele pra casa, pois estava em estado deplorável depois de entrar no quarto dia consecutivo de farra. E o pior: haviam levado seu violão.
Com menos de quatro meses de namoro, e quase o mesmo período no trabalho,  Vânia foi dispensada do emprego. Os patrões notaram que a moça estava grávida e preferiram mandá-la de volta pra Bragança, já que não queriam ter problema com os pais da garota, que tinha apenas 18 anos.
-Que que eu vou fazer agora Paulo César? Tu vai me assumir?
-Como Vânia? Ainda não conseguiu gravar meu disco, estou sem trabalho...
-Que porra de trabalho! Tu nunca trabalhou. Já me falaram tudo. Vive as custas do teu pai, que é mais lascado que os meus em Bragança! -gritou desaforadamente Vânia, que não aceitava estar sendo rejeitado em um momento tão difícil de sua vida.
-Ei, moleca., manera. Tu engravidou porque quis. Por que tu não tomou remédio? Eu não tenho como resolver -reagiu Peba chateado com o que ouviu da moça.
Vânia se achou na rua da amargura. Não queria voltar pra Bragança porque tinha medo dos pais. Também não tinha parentes em Belém, tampouco amigos.
Por alguns dias, ficou na casa do seu João da Taberna, que a pedido da mulher, dona Vera,  ajeitou uma vaga para a moça dormir.

PEBA PERDEU

Peba, enquanto isso, voltou às farras com Zé do Violão. Agora eles saíam com mais intensidade.
Vânia desapareceu da vida de Peba por uns tempos. Um dia se encontraram. Ele estava em uma mercearia bebendo com Zé do Violão. A barriga já estava bem crescida. Vânia havia se encostado na casa de seu João da taberna e ficara por lá. A relação dela com os donos da casa era era boa, dona Vera, esposa de João, se dava muito bem com a moça. Peba olhou para a imensa bariga de Vânia, criou coragem e perguntou:
-Oi Vânia. Tudo bem com você?
-Bem é? Esse foi o bem que eu ganhei em me meter contigo, canalha! -desabafou Vânia dando as costas par o ex-namorado. 
-Quero ter meu filho e depois ver o que faço de minha vida, Nem me olha mais!-completou Vânia.
Poucos meses depois nasceu Reinaldo, o filho de Vânia. Não quis levá-lo para sequer mostrar a Peba e aos seus pais.
-Meu filho só tem mãe e avós maternos. Não tem pai -dizia sempre para os vizinhos.
Depois do nascimento de Reinaldo, que Vânia levou para Bragança e sua mãe resolveu ficar com ele por uns tempos, ela retornou pra Belém e continuou na casa de seu João da Taberna. O comerciante não tinha filho e  não queria que Vânia deixasse a criança na terra dela. Preferia o garoto a quem se afeiçoara, na casa dele.

O TRIÃNGULO AMOROSO

Vânia conseguiu recuperar a beleza de antes. Estava mais bonita, usava boas roupas, ajeitava unhas e cabelo no salão, embora não tivesse trabalhando.  Sempre saia com dona Vera para o comércio. João, vez por outra, saia com as duas de carro, para um balneário, pra Mosqueiro, para um igarapé. passeava muito com as duas. Dona Vera era muito amiga de Vânia,, que de vez, abandonou até  conversa com Peba, que vez por outra perguntava pelo filho
-Você não é o pai de meu filho. Ele não é registrado com seu nome! -respondeu Vânia uma das vezes em que ele insistiu pra saber do garoto. -E não me perturbe se não vou à delegacia! -finalizou decidida a a encerrar o assunto.
Já decorria um ano que Vânia residia na casa de seu João da taberna, quando estourou a notícia de que Vânia fora vista aos beijos e abraços com o comerciante, na sala da casa dele. Segundo os comentários que surgiram na rua, Vânia estava só de calcinha e seu João estava com ela no colo, abraçado e beijando a moça carinhosamente. Dona vera não estava na cena. 
-Mana, sei não, mas acho que quando a dona Vera ver ou souber, a merda vi feder! -especulava uma vizinha.
-Sei não. Acho que alguém vai perder. E acho que não vai ser a Vânia, não. É mais jovem uns cinco anos de que a dona Vera, acho que ele vai ficar com ela -especulava outra.
A situação continuou. Seu João já andava com as duas abertamente. Pra onde ia um, iam s três.  
Vânia atendia na taberna, ficava no caixa. Dona Vera, ia pra cozinha, atendia aos vendedores. Seu João ampliava o negócio. Boatara um açougue junto com a taberna. Ele ficava mais o açougue e as duas mulheres na taberna.
Um dia, período de carnaval, s três saíram para um e só retornaram pela manhã, tipo 6 horas. Vânia, que havia tirado a carteira, veio dirigindo a lado de dona Vera. Seu João estava deitado no banco traseiro. Chegaram em casa,  seu João acordou e desceu do caro, ainda meio alcoolizado,  abraçado com as duas mulheres, sorrindo e gritando:
-Viva o amor. Viva os meus amores. Viva a minha vida, Vânia e Vera. Vera e Vânia!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

AMOR, SEXO E VIOLÊNCIA

Márcia chegou do interior para estudar. Morena, de corpo perfeito, com apenas 17 anos, começou logo a trabalhar em casa de família e a estudar à noite. Cortejada no prédio, desde moradores até aos funcionários do condomínio, a moça já estava avisada de que "os homens de Belém são muitos espertos.  Querem só embuchar e deixar pra lá", como lhe alertara Cleuma, colega que também trabalha no Condomínio. 
No prédio em que trabalhava falava com poucos. Chegara com a cabeça de que teria que vencer, trabalhando e estudando.
Já estava trabalhando em uma mesma casa há quase sete anos. Residia no local do trabalho, onde tinha seu quarto, pequeno mas confortável, com TV e tudo mais de primeira necessidade. Resistiu às investidas do garotão filho de dona Anita, a patroa e do cunhado dessa, Carlos, irmão de seu Heitor, que ao contrário do irmão, era um homem de aproximadamente 45 anos, mas de muito respeito, não tirava brincadeira de maneira nenhuma, era sempre fechado e rígido com os filhos,  Heitor Júnior e Gabriela, a Gabi.

O GRANDE ENCONTRO

Foi uma novidade para todos ela dizer que iria sair um final de semana para uma festa com um amigo. O tal amigo deixou dona Anita, a patroa, de orelha em pé.
-Quem é esse já, Marcia?
-Um amigo, lá da escola. Um rapaz legal.
-Ok. leva a chave, mas vê se não chega muito tarde, para não perturbar o Heitor quando entrar -recomendou.
-Fique tranquila, dona Anita. Vou chegar cedo -garantiu a moça.
Na festa, de aparelhagem, Márcia ficou feliz da vida. Desde garota que aprendera a dançar, mas nunca tivera oportunidade de mostrar seus dotes de dançarina em Belém, porque o trabalho e os estudos não deixaram.  Ficou na festa até às 3 da manhã. O amigo já bem íntimo, queria que ela fosse para outro canto, possivelmente um motel. Mas ela se esquivou.
-Calma, mano. Ainda é cedo pra isso. O convite que eu aceitei foi para vir pra festa -sentenciou Márcia ao amigo Reginaldo, o Regi, que entendeu, ficou na sua, mas deixou bem claro que adorou a noite.
Márcia na realidade queria ficar com Reginaldo e até ir "para outro local" como ele definiu pra ela. mas não queria se queimar com a patroa. Afinal era a primeira vez, não poderia vacilar.

VIVENDO JUNTOS

Depois daquele dia, os dois passaram a se encontrar e a sair com maior frequência. Márcia adorava.
Reginaldo, que trabalhava  como porteiro de um edifício de salas no centro da cidade, e parecia estar empolgado com a moça. Já estavam no namoro há mais de seis meses, quando ele convidou ela para morar com ele.
-Onde, na sua casa, com seus pais? -perguntou
-Não meu amor. Tenho um terreno em Outeiro e estou levantando uma casinha lá.
-Mesmo? -perguntou
-Sim. Bote fé. Se der certo, vou receber minhas férias, juntar com o décimo, vou terminar daqui amenos de um mês. Aí é só nós! -disse o jovem entusiasmado.
Márcia aceitou de primeira. Porém, ficou de falar com seus patrões, pois sabia que não seria fácil deixar definitivamente de dormir na casa, pois todas as noites antes de ir pra escola deixava a mesa pronta para o jantar. E quando retornava tinha que lavar a louça ou então acordar antes das seis da manhã para fazer isso e preparar o café da família.
-Dona Anita preciso falar com a senhora.
-Diga Márcia. Pode falar agora mesmo.
--Estou lhe avisando que a partir do próximo mês não vou poder mais dormir aqui.
-Mas como, menina? O que houve assim tão de repente?
O Regi me chamou para morar com ele, na casa dele e eu estou aceitando. Já falei até pra minha mãe em Igarapé Açu. A casa fica pronta m~es que entra.
-Olhe Márcia, não conheço esse rapaz, mas não posso interferir em sua vida. Espero que você tenha feito uma boa escolha. Mas lhe aviso: muito cuidado -lembrou dona Anita entristecia.
Márcia foi curta e grossa com a patroa, que era boa com ela, mas muito exigente:
-Ok. Lhe agradeço. Mas já está na hora de dar um rumo em minha vida, né.? Já estou há com sete anos aqui e preciso ter minha própria casa.
Dona Anita se conformou e até fez um negócio com Márcia. Lhe propôs dar uma quantia em dinheiro que dava para ela ajudar Reginaldo a concluir a casa e ainda comprar alguns móveis.
-A partir de agora você vai trabalhar só até 18 horas e sábado até meio dia, ok? E vou assinar sua carteira -adiantou a patroa, que gostava muito de Márcia.
A vida de casada de Márcia foi tudo que ela pediu a Deus. Passou a gostar mais de si: se arrumava todos os dias quando saia do trabalho e Reginaldo ia apanhá-la; comprou novas roupas e passou a cuidar mais de seu cabelo, que era alisado, "mas não muito legal", como falava aos mais chegados.
Passou a usar um look meio afro, sempre se atualizando. Muitas vezes com tranças. O marido adorava e gostava de sair às sextas e aos sábados para as festas, e terminavam sempre em um motel.
-Acho que vou pedir até para o pessoal daqui dar um desconto, pois só dormimos aqui nas sextas ou nos sábados -comentava com ela Regi sorrindo.
Dia de domingo era normal o casal sair para a praia de Outeiro, sempre com uma ou duas amigas de Márcia da escola. Bebiam, conversavam e depois as amigas iam embora. Muitas vezes Regi até insistia para elas ficarem até o outro dia. Mas elas sempre iam embora.

A MUDANÇA DE HÁBITO

Márcia levou Regi para conhecer sua família e logo ele fez amizade com os pais da moça. Simpático e de boa conversa, Regi conquistou o coração de todos os parentes da esposa.
Já estavam juntos há dois anos quando Regi começou a relaxar no encontro da mulher na casa de seus patrões. Ela passou a vir sozinha. Ele sempre alegava que tinha muito trabalho, teria que demorar e outras conversas. Márcia já estava chateada, porque era uma mulher que depois que descobriu o sexo com o marido queria sempre a presença dele,. "Por mim, todo dia faço amor. Não tem essa de cansaço", comentava sempre com Cleuma. Estava se sentindo de lado, praticamente relegada a segundo plano pelo marido.
Reginaldo foi mudando seus hábitos a cada dia. Além de não pegar mais a mulher na saída do trabalho, também passou a chegar em casa de madrugada às sextas e aos sábados. Márcia se segurou até enquanto pode. Um dia explodiu. A briga aconteceu de madrugada, quando o marido chegou e ela sentiu um cheiro diferente nele. Deixou ele tomar banho mas na surdina pegou a cueca dele e guardou sem o marido ver.  Examinou bem a cueca e não pensou: partiu pra cima dele com tudo:
-Que é que tu quer? Não me quer mais? Está com outra na rua? Seja homem e assuma, seu filho da puta! -gritou Márcia com toda a força de seus pulmões, não respeitando nem a vizinhança que dormia.
-Calma amor. Que é isso?
-Que é isso? É isso! -e esfregou a cueca com cheiro esquisito na cara dele. Ta trepando com outra? Pode falar. Se quiser eu saio fora. Sou mulher independente e sei viver sem homem, ou melhor, sem você! -gritou Márcia descontrolada.
Reginaldo preferiu ficar calado. Evitou o pior, mesmo porque, sabia que a mulher descontrolada era capaz até de coisa pior. Achou melhor conversar com a mulher quando amanhecesse o dia.
Daquele instante em diante a relação entre o casal ficou complicada. Regi pediu desculpas, perdão,
mas Márcia estava irredutível. Ou ele mudava totalmente ou então era o final de tudo. Não aceitava ser traída, humilhada, "trocada por uma qualquer", como falou pra ele.
Mesmo assim continuaram juntos. Ela cada vez mais bonita, no auge de seus 26 anos, era sempre assediada no trabalho pelos colegas, pois comentara sua situação para a amiga Cleuma, ela deixou vazar  e eles também notaram que o marido não a estava  mais apanhando no trabalho.
-Vamos tomar uma hoje Márcia. O Regi não vem mesmo te apanhar -convidou Cleuma.
De pronto ela aceitou, mesmo porque estava chateada com sua situação, pois Regi não mudara.
E foram para um barzinho na Primeiro de Dezembro. Sentaram, pediram uma cerveja, depois outra. Tomaram seis cervejas. Os homens e mulheres não tiravam os olhos das duas, principalmente de Márcia, que chamava atenção pela roupa colada e as curvas perfeitas. Márcia não dava muita bola. Cleuma, que estava separada há mais de um ano, ainda sorria, mas Márcia não queria dar chance ao possível ciúme de seu marido.

A SEPARAÇÃO

Chegou em casa pouco depois das 23 horas. O marido ainda não chegara. Ligou a TV e ficou vendo um filme. Algumas cenas lhe chamavam atenção. Um casal apaixonado, se beijava e  se acariciava. Chegaram a fazer sexo. Ela pensou em sua vida, nos seus desejos, no fantasma da traição. As horas passavam e Reginaldo não chegava.  Márcia ficou quase sem roupa e adormeceu no pequeno sofá.
Quando Reginaldo chegou não a acordou, mas ela notou algum barulho e logo se levantou, foi pra cama e nada reclamou.
Como da vez da briga, na madrugada acordou, foi ao banheiro e depois foi direto na cueca do marido. Sentiu um perfume estranho e um forte cheiro de sexo, guardou a cueca, mas se segurou.
No outro dia, sábado, foi trabalhar um pouco mais tarde. Reginaldo foi mais cedo. Nem se falaram.
Saiu mais cedo do trabalho e dessa vez foi ela quem convidou Cleuma para sair. Foram para a casa da amiga, no bairro de Canudos. Lá por volta das 16 horas foram para um Pagode. Dançou horrores. Um rapaz que se apresentou como cabo da PM foi quem mais dançou, pediu licença e sentou com elas na mesa. Beberam, conversaram, falaram de sus vidas. Por volta das 22 horas, o pagode já estava esfriando porque começara cedo, o rapaz convidou ela para irem em outro local. A amiga disse que ela poderia ir. Sem pensar duas vezes, Márcia deixou a amiga Cleuma em casa e no mesmo táxi  rumou com Juliano, o rapaz, para um bar. Beberam mais de meia noite. 
Juliano estava decidido que naquela noite ficaria com ela. Bastava ela permitir.
-Sou casada. Embora em crise com meu marido, sou ainda mulher dele.
-Mas você me disse que estão brigados, que ele chega sempre tarde... -retrucou Juliano.
-Verdade.
Ficaram calados por alguns segundos, e decidiram, depois de beber mais uma cerveja, que iriam sim para um motel.
Márcia e Juliano passaram a noite parecendo um casal em sua primeira noite de lua de mel. O sexo foi a tônica da noite. Juliano, com mais ou menos 40 anos, não deu sossego à Márcia, que também foi a mulher que ele pediu a Deus.
-Você foi a melhor mulher que eu conheci, na vida Márcia. Linda, bom papo e maravilhosa no amor -disse Juliano.
-Você também é demais. Foi tudo maravilhosos, tudo de bom -disse ela.
Ficaram até às 7 horas da manhã. Tomaram café e ela foi direto para a casa de Cleuma.

AS BRIGAS E UM NOVO AMOR

Conversou com a amiga e perguntou se poderia passar o final de semana na casa dela. Disse que ajudaria no almoço.
-A casa é sua amiga. Vamos fazer um churrasquinho e comprar umas cervejas -festejou Cleuma.
Márcia não comunicou com o marido nesse dia. Passou o domingo muito bem, contou tudo para a colega, elogiou Juliano e na segunda feira cedo foi trabalhar.
Na chegada, na porta do prédio, encontrou Reginaldo em pé, à sua espera.
-Bonito pra senhora, né?  Dois dias na sacanagem. Negue agora? -arguiu ele.
-Não vou negar nada. Passei o domingo na casa de minha amiga. Você não fica direto com outras mulheres? Suas cuecas estão sempre cheia de "perfume" de mulheres da rua que você anda por ai?  Por que eu tenho que aguentar isso? Não sou santa, não, mano! -jogou diretamente na cara de Reginaldo.
A discussão ia ficar mais feia, mas o zelador do prédio pediu que ela entrasse e que ele por favor fosse tratar desse problema na casa deles.
À noite, Reginaldo chegou mais cedo em casa, e esperou a mulher. Quando chegou Márcia foi direto para o banheiro, tomou banho e foi para seu quarto. Ele a acompanhou e tiveram uma conversa séria. Quando Reginaldo levantou a voz, ela retrucou no mesmo tom. Irritado, ele tentou agredi-la, mas ela se defendeu. Ele deu-lhe um empurrão, ela caiu, levantou e conseguiu pegar uma figa de madeira que ficava na penteadeira e deu em sua cabeça.
Reginaldo caiu e o sangue jorrou. Ela nada fez pra acudi-lo, embora ele aos gritos pediusse socorro à vizinhança. Dois senhores o acudiram, levando Reginaldo ao Posto de Saúde. Alguém avisou à Policia, pois pensaram que ele também tivesse feito algo mais sério com ela.
terminou que Márcia foi levada ao Posto Policial para se explicar. O plantonista achou melhor deixar ela detida. Reginaldo, enquanto isso, foi levado para o Pronto Socorro, poi seu caso foi mais  grave. A pancada abriu uma brecha em sua cabeça e necessitava de pontos e alguns exames.
A noite foi toda consumida com esses problemas. Parentes de Reginaldo o acompanharam e Márcia, praticamente só, teve somente a presença de Cleuma e de sua patroa, dona Anita, que conseguiu que a liberassem por ser uma pessoa de boa índole e Regi não apresentar perigo de morte.
Márcia não voltou mais para casa, a não ser para trocar as fechaduras, trancar e esperar a decisão de como ficaria a casa. Mas decidiu que não ficaria mais com Regi.
Quase um mês depois, ela se encontrou com Reginaldo e decidiram que ela ficaria com a casa e pagaria durante 12 meses uma certa quantia pra ele. A decisão, por orientação de seus patrões, foi lavrada em cartório.
Reginaldo foi morar com Samira, uma garota que ele já curtia há um bom tempo. 
Márcia voltou pra sua casa, depois de um acordo de não aproximação dela com o ex-marido de menos de 100 metros. Preferiu ficar um período solteira, namorando Juliano, segundo ela sendo muito fez em todos os aspectos, "mas por ora não quero viver junto, não".
Um ano depois, passou a morar com Juliano, que conseguiu se divorciar da ex- e propôs casamento a ela . "Vamos experimentar vivendo juntos primeiro", disse. Tô ainda arrasada com o que houve. mas como gosto de você, vamos experimentar. Com seis meses juntos, ficou grávida e teve um linda menina. Um ano depois do nascimento de Yasmim, a filhinha, casou com Juliano, a quem hpje considera o homem de sua vida.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

UM FINAL NADA FELIZ

Renato estava de passagem por Belém. Vinha de Recife, convidado que foi pelo amigo Antonio, também pernambucano, que morava aqui já há algum tempo. A proposta era passar uns 10 dias, pois estava aproveitando que havia saído de um emprego, mas gostou tanto da cidade, que resolveu ficar um mês. O dinheiro que trouxera já era para ter acabado, mas como o amigo Antonio pedira para ele deixar o hotel e o hospedara em sua casa, a grana estava rendendo mais que dobrada.
Todos os dias tinha um passeio. Ou ia só ou com Antonio, que saia do trabalho às seis da noite e sempre se encontrava com o amigo. Era um dia no Trapiche, outro no Ver-o-peso, num boteco do centro da cidade. Renato adorava quando iam para Icoaraci. Achava a Vila Sorriso um local diferente. "É perto do centro da cidade, mas tem uma vida própria, e as garotas são lindas", comentava quando alguém lhe perguntava porquê de gostar tanto da Vila.

UMA GATA DIFERENTE

Um dia, à tarde de uma sexta, foi para um bar na Doca. Sentou só. Perto das 19h chegou Antonio e notou que o amigo estava em uma mesa com uma jovem muito simpática. Pediu licença e falou com  Renato que foi logo lhe apresentando Marcela. Moça bem clara, de olhar forte, sorriso tímido, e muito comedida, o que demonstrava que era desconfiada.  Antonio sentou, conversou mas em poucos minutos Marcela pediu licença e voltou para a mesa onde estava com uma amiga e o namorado desta.
-Quem é a gata, Renato? -perguntou curioso Antônio.
-Conheci agora. Chamei aqui, não quis vir, mas depois veio. Acho que não resistiu ao meu charme -brincou sorrindo Renato.
-Olha cara, pelo traje e pela educação, isso não é moça da periferia, não.  Tem cara de quem é bem nascida -garantiu Antonio.
E de fato Marcela era, como analisou Antonio, bem nascida. De uma família tradicional, seu pai era militar da aeronáutica, já falecido. Ela vivia com a mãe e um sobrinho de seis anos, filho de sua irmã. Era a filha caçula, estudava, mas sua mãe queria mesmo era que ela casasse, pois não queria morrer sem ver sua filha mais nova muito feliz.
Minutos depois da chegada de Antonio, Renato foi convidado por Marcela para ir pra sua.mesa  Antonio preferiu não atrapalhar e ficou sozinho, assistindo o show de dois cantores da terra.
No outro dia, Renato marcou com Marcela e foi, desta feita, sozinho para o Bar. Ficou com ela até tarde e, por volta das 23 horas um carro veio apanhar a moça. Uma mulher ao lado do motorista desceu, Marcela lhe apresentou Renato, se despediu deste e entrou no veículo. Renato foi para sua casa de ônibus, já tarde.
Os dois continuaram a conversar diariamente. Se encontravam à noite quase todos os dias. O namoro se evidenciava e Marcela quis levá-lo em sua casa.
-Mamãe está querendo lhe conhecer -convidou Marcela a Renato.
-Você não acha que ainda é cedo? -retrucou ele, como quem não quisesse ainda conhecer a sogra.
-Claro que não. Ela não quer que eu fique saindo com desconhecidos. E até você conhecê-la é um desconhecido -ponderou Marcela. -Pelo menos para ela -completou.
E os dois marcaram para irem conhecer a mãe de Marcela. Ao descerem do táxi, meio tímido, Renato foi apresentado à dona Augusta, mãe de Marcela.
-Renato fique à vontade. A Marcela fala muito em você -falou dona Augusta toda solícita
-Obrigado. Estava esperando esse dia. Gosto muito da Marcela e ela insistiu para que viéssemos, felizmente deu certo hoje -agradeceu Renato.

O GRANDE SEGREDO

Depois dalí os encontros foram sempre na casa de Marcela. Renato, que recebera uma proposta de emprego, recusara, a conselho de dona Augusta. -O salário você falou que é muito baixo. Espere uma coisa melhor. Enquanto isso, você fica dirigindo pra mim que eu lhe pago melhor -disse dona Augusta, querendo cada vez mais conquistar Renato.
Renato já era um membro da família. Aos domingos, era natural irem para Mosqueiro ou Salinas. Não interessava o período, dona Augusta queria sua filha caçula feliz.
-Estou numa idade que para mim,  Marcela é que é importante. A felicidade dela é a minha! -dizia sempre dona Augusta para os amigos que viam o sorriso no rosto dela e de Marcela.
Antonio, por sua vez, só via Renato à noite, quando este chegava já bem tarde.
-A mãe de Marcela quer que eu durma lá, já reservou até um quarto, mas eu não quero. Acho que é muito comprometimento -dizia Renato para o amigo.
-Fosse tu eu dormiria. A mulher não convidou, rapaz? -dava corda Antonio.
Marcela estava realmente enamorada. Nunca havia namorado uma pessoa para ficar tão agarrada, tão dependente.
-Acho que Renato é o homem da minha vida -confidenciava Marcela à Ritinha, sua irmão mais velha.
-Acho ele simpático e muito educado -completava Ritinha.
Renato ganhava assim o carinho de toda a família de Marcela. Se era dona Augusta, os paparicos eram visíveis. O sobrinho, Claudinho, sapeca, só se tranquilizava quando Renato brincava com ele.
O rapaz quando estava com Antonio, confidenciava que tinha medo de dizer para Marcela que era casado e separado. Que havia uma ex-mulher em sua vida e que tinha inclusive um filho, de cinco anos.
Tá ruim pra eu sair dessa. Ela confia em mim, gosta de mim. A família dela é muito legal, mas eu não tenho coragem de confessar pra ela que sou separado, que não posso casar, que tenho um filho. Tá pegando pra mim! -lamentava-se Renato, se mostrando impaciente com a situação.
Foi numa tarde, quando os dois estava em Icoaraci, tomando uma água de coco, que Renato resolveu abrir o jogo para Marcela.
-Meu amor, tenho que lhe contar um segredo que trago comigo e que está me perturbando -confessou Renato.
-Fale, amor. Quero saber de tudo de você -falou Marcela, embora um pouco preocupada.
-Venho de uma relação, que acabou há seis meses. Não tenho mais nada com ela, mas tenho um filho. Um garotão de cinco anos.
-Meu Deus. Por que você não falou antes, Renato?
-Estou falando agora. Estamos namorando só há três meses. Então não acho que escondi nada -respondeu.
-Ta certo, ta certo, e onde está essa mulher, essa criança?
-Está com ela, em Recife. Pretendo ver em breve, porque afinal é meu filho, né?
Os dois, depois dessa rápida conversa, decidiram voltar pra Belém. Renato dirigia com a cabeça cheia de pensamentos. Imaginava como seria a relação doravante. Como dona Augusta iria reagir quando soubesse? E a Marcela, iria aceitar a situação? Ela, que sonhava em casar de véu e grinalda!
Foi Marcela quem quebrou o gelo. -Olha, temos que falar para a mamãe. E se possível hoje -disse Marcela.
-Tudo bem. Eu  por mim, resolvo hoje também. Tem que saber como ela está. Você não acha melhor conversar sozinha, depois me passar a reação dela? -perguntou Renato.
-Pode ser. Mais tarde, antes de dormir eu converso numa boa com ela.
-Ok. Mas é importante que você também já tenha decidido o que fazer, pois eu não tenho nem como me divorciar agora -lembrou Renato à namorada.
Dona Augusta recebeu a notícia muito tranquila. -Minha experiência já dizia que o Renato era ou pelo menos já tinha sido casado, minha filha -garantiu.
-Nossa, como a senhora adivinhou mamãe?
-Como te falei, filha: minha experiência de vida me dizia isso -completo dona Augusta.
No outro dia Renato chegou cedo e foi muito bem recebido por dona Augusta -Oi, filho. Tudo bem?
-cumprimentou.
--Tudo certo, dona Augusta
Acho que a Marcela tem novidades para você -disse.
Qual será a novidade? -pensou se perguntando Renato.
Marcela foi receber o namorado com um sorriso. A mãe havia entendido tudo e até se oferecido para trazer o filho de Renato para Belém.
-A mamãe recebeu a notícia tranquila. Perguntou se eu gosto mesmo de você, se quero casar com você. Respondi que queria! -disse Marcela sorrindo para o namorado.
-Ok. Estou feliz por ela ter entendido -sorriu Renato.

O CASAMENTO

Os dois decidiram que ficariam noivos duranre a semana. Ao receber a noticia, dona Augusta de um presente aos dois: um fim de semana só deles dois em Fortaleza. mandou Renato apanhar as passagens e marcar para sairem de lua de mel antes do casamento.
-Sua mãe não existe, Marcela -falou emocionado.
-Mamãe quando gosta é assim -garantiu Marcela.
Os dias em Fortaleza foram maravilhosos. Todos os dias Marcela falava com a mãe, dizendo de sua felicidade de estar a lado do homem amado. Conheceram vários lugares: foram à Canoa Quebrada, Morro Branco, Cumbuco e outras localidades. A Praia do Futuro era u dos cenários quase diário deles quando não estavam pelo interior.  Todas as tardes passavam se deliciando pelos locais turísticos da capital alencarina.
Renato estava maravilhado com tudo aquilo. Não imaginava que existisse uma pessoa como dona Augusta, que tudo fazia para agradar a filha caçula e de tabela a ele..
Quando retornaram de Fortaleza o casal foi surpreendido com a notícia dada por dona Augusta: -vamos marcar o casamento de vocês já para o próximo mês.
-Mas mamãe eu não estou grávida para ser assim tão apressado! -estranhou Marcela
-Minha filha eu quero que vocês casem logo. Eu quero netos! -disse dona Augusta.
Ao receber a notícia Renato nada falou. Mas como Marcela, estranhou a pressa de dona Augusta.
Correu para dar a noticia a Antonio, o amigo de quem estava praticamente isolado.
-Rapaz não sei o que deu na velha, mas ela quer que casemos já no próximo mês!
-Égua bicho, e pelo que vejo, nem emprego tu tens, né? -perguntou Antonio.
-Não tenho emprego certo, mas fico direto trabalhando para a sogra, e toda semana ela me dá uma grana boa! -garantiu Renato sorridente.
Nesse dia, os dois amigos comemoraram como não faziam há muito tempo. Beberam muitas cervejas por conta de Renato. Marcela ligou umas três vezes para casa de Antonio pra falar com o futuro marido. Mas Renato preferiu não atender. Explicaria tudo depois.
Renato voltou perto das 19 horas para a casa de Marcela, onde já estava praticamente  morando. Dona Augusta preparara um quarto para os dois pombinhos.
Mas a cabeça de Renato não era tão fria como ele deixara transparecer para o amigo Antonio. Tinha várias preocupações. Mas a principal era de como seria o casamento, já que era casado nos dois, civil e católico.
-Como vamos fazer pra casar, se já sou casado? -perguntou à noiva.
-Deixa que a mamãe resolve isso. Você sabe que ela tem muito conhecimento - lembrou Marcela.
Dona Augusta, conhecida nas rodas sociais, com amizade que ia de juízes a cartorários, tentava resolver o problema do divórcio de Renato.
-Meu filho há quanto tempo você já separado? -perguntou à Renato.
-Já está quase fazendo um ano, dona Augusta.
-Você não quer logo dar entrada no seu divórcio?  Não se preocupe que eu banco tudo -disse a sogra.
-A senhora é quem sabe.
-Então vamos marcar uma cerimônia em família em minha casa enquanto tramita os papéis do divórcio. Mas vocês para todos os efeitos já serão casados. Pronto! -determinou dona Augusta.
E foi o que foi feito. Menos de um mês depois, num sábado à noite, a casa foi toda enfeitada com flores vermelhas. Renato ganhou um terno novo feito por um famoso alfaiate da cidade. Marcela esnobava um vestido branco, abeto ao lado, com detalhes de ouro na parte superior. Uma coroa enfeitava seu belo cabelo, penteado num salão exclusivo para ela, que foi penteada por cabeleireiros especializados em casamento.
Renato demonstrava um nervosismo natural. Nunca tinha visto tanta gente elegante junta. Era cada senhora com o vestido mais rico. Eram só os familiares de os amigos e  amigas mais íntimos da família e de Marcela.
Por volta das 20 horas entrou um senhor de smoking, cabelos meios grisalhos e um livro nas mãos. Era um famoso advogado e membro da sociedade que, ele soube logo, faria o casamento. Não era juiz, mas para os presentes, estava fazendo aquele casamento social, na própria casa da noiva, para sair nos jornais e impressionar.
Antonio, o grande amigo de Renato, estava presente. Alugou um terno, pago por Renato, que estava com uma grana boa para o dia do casamento, e foi pra festa. Era o único "parente" de Renato presente.
Os primeiros meses de casado de Renato foram também de quase total desaparecimento da casa e pressuposto da convivência com o amigo Antonio. Até mesmo os telefonemas que dava uma ou duas vezes por semana para saber como estava o amigo, acabaram. Renato alegava, quando Antonio ligava e conseguia falar com ele, que Marcela era ciumenta.

O DESESPERO E A FUGA

-Rapaz é demais. Tô que não aguento. Não posso dar um passo que ela quer saber. Cruz credo -reclamou quando Antonio conseguiu que se encontrassem para tomar uma, em seu aniversário.
-Mesmo? É, sendo assim, te entendo!
Conversaram, beberam, mas Renato pouco falou do real problema que estava vivendo. Sem coragem para desabafar, continuava com sua sina de conviver com o ciúme doentio e o controle de suas ações por parte da mulher e de dona Augusta, que não se metia, mas aceitava que a filha "controlasse" o marido.
Desde o último encontro entre os dois, Renato passou a ligar com mais assiduidade para o amigo. Conseguia fugir e até se encontrar uma e até duas vezes por semana com  Antonio. Numa dessas vezes, Renato se abriu e confessou que não aguentava mais.
-Vou embora. Vou sumir daqui, cara. Tá complicado pra mim. Me sinto um prisioneiro. Não saio de casa a não ser com a Marcela ou a mãe dela. Não tenho liberdade pra ir nem no comércio sozinho. Tô frito. Tenho que me mandar de qualquer maneira -sentenciou Renato.
Sem nada entender, mas procurando compreender a repentina decisão do amigo, quis saber o que estava realmente acontecendo entre Renato e a esposa. Renato preferiu não falar muito sobre o assunto intimo com sua mulher, mas marcou uma visita à casa de Antonio para o dia seguinte.
Por volta de meio dia, Renato avisou a Antonio que iria para sua casa mais ou menos às 14 horas. 
-Prepara uma cerveja que vou pra tua casa e vais ter uma surpresa -disse para Antonio.
-Já estou te esperando Não vou nem trabalhar hoje a tarde.
Antonio mandou comprar seis cervejas. Pediu para a vizinha Natercia  fazer umas calabresas para tirarem o gosto e esperou a chegada do amigo.
Por volta das 14,30h Renato chegou. Trazia uma maleta e uma sacola pequena. Ficaram tomando gelada e conversando. Renato se abriu totalmente com o amigo. Disse que na verdade nunca gostou de Marcela ao ponto de casar.
-Acho que errei porque me empolguei -confessou ao amigo.
-Sim, mas o que tu queres fazer? -indagou Antonio
-Vou embora. Volto pra Recife hoje mesmo. Saio daqui direto pro terminal. Não vou falar pra ninguém;  só tu sabe disso! -garantiu Renato.
Aquela foi a tarde cujo tempo mais demorou a passar para Renato. Olhava para o relógio toda hora. Havia comprado passagem para as 18,30h. 
Enquanto aguardava a hora de partir, Renato metia a carra na gelada. Já tinham comprado mais meia dúzia de cervejas e já estava acabando. Decidiram, como já era 16,30h, comprar mais três.
Enquanto isso o telefone da casa de Antonio tocava toda hora. Já tinha tocado uma seis vezes. Ele quando atendia dizia que não tinha noticia alguma do amigo Renato. Na última vez que Marcela ligou, ele disse que iria sair para resolver um problema. Ela disse0lhe que estava preocupada, que iria no IML e até no aeroporto. -Tenho que encontrá-lo! -repetia marcela a roda hora.
Renato preferiu sair da casa de Antonio por volta das 5,30.  Pegou um ônibus e chegou ao terminal antes das 18 horas, Conseguiu embarcar sua maleta e sua pequena sacola e ficou observando uma possível chegada de Marcela. Não queria ter a surpresa de encontrar a mulher tentando lhe impedir de partir.
Por volta das 18,10 entrou apressado no veículo que iria direto para Recife. De longe, o amigo Antonio ficou a lhe observar, já que sem saber, seguiu o amigo e ficou na espreita de uma possível surpresa que ele poderia ter. Precisamente às 18,32 o ônibus de Belém pra Recife partiu. Com ele levou Renato e o final do sonho de amor de Marcela. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

LINDINHA, A GATA ENCANTADA

Júnior nunca demonstrara ser um apaixonado por animais. Tudo bem que quando ouvia histórias de cachorros, gatos e outros animais domésticos, ria e batia sempre uma certa curiosidade em ter um bichinho para ver como era criar um animal. Às vezes ele ajudava uma amiga ou amigo quando precisavam ir ao veterinário. E só.  Seu temor maior era porque como sempre residiu em apartamento, pensava duas vezes quando lhe ofereciam um para criar.
Foi Ana, uma amiga sua, namorada de Carlos, quem praticamente o obrigou a ficar com uma gatinha mestiça de siamês com vira lata, marrom e branca, que aparecera perto de sua casa.
-Fica com ela Júnior. A coitada vive na rua sendo perseguida por cachorros e gatos maiores. É novinha, tem poucos meses de vida, não tem nem um ano e parece já estar gestante, a mamãe que falou. Faz essa caridade com esse pobre animal! -implorou Natália ao amigo.
-Impossível, mana. Lá em casa não tem nem local pra ela ficar. Moro com meus pais em apartamento, e tem três quartos: um meu, outro do meu irmão e um dos meus pais. Não dá pra ela ficar em nenhum deles, né? -respondeu Júnior, deixando claro que enfrentaria uma situação difícil se pegasse a gata.
Mas, mesmo enfrentando toda essa problemática, Júnior ficou penalizado com a situação da gata. Foi pra casa e imaginou uma situação positiva para a bichana. Imaginava a gata sendo molestada por gatos de rua e até perseguida por cachorros. Chegou a oferecer a amigos, pessoas de seu trabalho, da faculdade, mas ninguém queria.
-Já tenho dois gatos em casa -disse-lhe Clarissa.
-Porra, lá em casa é uma verdadeira creche de animais. Tem passarinho, um gato e um cachorro já com quatro anos. Ainda bem que eles conseguem viver sem brigas -respondeu desconversando  Robson, colega de Júnior da faculdade.
Todos os dias, quando chegava em casa, Júnior tentava falar com seus pais e seu irmão sobre a gata. Procurava um meio de tirar a gatinha da rua, dos perigos que a rua oferece para todos, e para os animais muito mais ainda. 
Pensou até em abrigá-la em seu próprio quarto. Tentaria mantê-la escondida de seus pais, somente para fazer um bem. Pensou várias horas na noite. Mas ao mesmo tempo imaginava nas despesas com veterinário, nos gatinhos que iriam nascer, onde ficariam?  E como ele conseguiria alimentar a gata e a todos os pequenos?

UM LAR PARA A GATA

De tanto pensar, Júnior de repente teve uma ideia: o quarto de empregada, que desde que Anita havia saído estava praticamente sem uso, a não ser como uma despensa. Pensou com seus botões: "a mamãe só usa o quarto que era da Anita para estender roupa.  Ou então para guardar alguma coisa que não se usa. Acho que dá para a gata ficar lá" -raciocinou.
Não pensou duas vezes, decidiu arriscar. Ligou para Natália e pediu pra ela pegar a gata, dá um banho que ele à noite talvez fosse pegá-la. 
Nesse dia Júnior chegou em casa depois das 23 horas. Sua mãe já estava dormindo e seu pai na sala via o final de um filme. Entrou pela porta da cozinha e se dirigiu quase que sorrateiramente para o ex-quarto de empregada. Seu pai estranhou sua demora para aparecer na sala e foi ver o que havia, mas não desconfiou de nada. Viu apenas que Júnior tinha trazido uma caixa. -Que é isso? -perguntou-lhe o pai. -Nada -respondeu Júnior seguro.
Muito cedo, dona Jane, mãe de Júnior, ouviu um barulho esquisito no quarto que servia como despensa, e foi ver. -Que é isso, quem trouxe esse gato pra cá? -perguntou assustada. Como ninguém respondeu ela foi logo com os meninos, Douglas e Júnior. -Mamãe, foi eu que trouxe, mas só por uns dias -se acusou Júnior. -Na segunda feira eu devolvo. É de uma amiga, porque ela está se mudando e não tem como cuidar. Mas me responsabilizo por ela -garantiu.
Júnior saiu logo de casa para providenciar uma caixa para a gata fazer suas necessidades, comprar uma vasilha para por a comida e a água e o principal: ração para o animal, que a partir daquele momento passou a ter uma residência fixa, pelo menos até a palavra final de seus pais.
Nesse dia, a gata passou o tempo todo no quarto. Ninguém ousava chegar perto dela. A fama de ser da rua amedrontava a todos. Menos ao Júnior, que chegava perto, dava comida, deu até banho. A gata não o estranhava, mas com os outros tinha comportamento diferente, olhava muito desconfiada.
Passaram-se os dias e Júnior não falava em levar a gata de volta. A gata, enquanto isso, já começara a andar pela casa. Um sofá, que ficava no quarto de Júnior, foi para o hoje quarto da gata, que ganhou o nome de Lindinha. 
Dona Jane e seu Mário, os pais de Júnior, em poucos dias passaram a sentir um certo afeto pela gatinha. Daí começaram a pensar em ficar definitivamente com a gata. Era notório que Lindinha começava a conquistar a todos da casa.  Desta feita, foi fácil e unânime a decisão da permanência da gata na casa. Até Douglas, irmão mais novo de Júnior, sempre meio arredio,  se pegava sempre brincando com a gata.
Com pouco mais de um mês em sua nova residência, Lindinha ganhou o carinho definitivo de todos.
Quem tem ou já teve um gato ou uma gata de estimação sabe o quanto esses felinos são carinhosos e gostam de também receber muito chamego. indinha é assim: esperneia, se deita, pula, e tem sempre para todos da casa um olhar de amor, de carinho, parece estar sempre pedindo colo, chamego.
Seu Mário, o pai,  sempre foi o mais apegado com gata, que a cada dia demonstrava estar mais perto de ganhar seus filhotes, embora Júnior, definitivamente, era o predileto de Lindinha. Mas foi seu Mário, também, além de ser quem mais se preocupava em colocar a comida da gatinha pela manhã e à noite,  foi quem fez a descoberta que Lindinha não bebia água na vasilha que havia sido comprada especificamente pra isso. -Ela só bebe na torneira, ou seja, só quer água corrente -dizia o pai de Júnior estranhando o comportamento da gata.

LINDINHA, A GATA, E SUAS MANIAS

A realidade é que Lindinha rejeitava e não bebia água de maneira nenhuma na vasilha. Era sempre vista e retirada de um dos banheiros bebendo água na pia.
-Tudo bem, mas no meu quarto eu não quero. Ela pode beber em qualquer pia, mas na do meu banheiro não -deu o veredicto dona Jane. 
Mas Lindinha era teimosa. E apesar de já ficar em cima da mesa, nas cadeiras, no sofá da sala sem ser incomodada,  era sempre retirada de um dos banheiros da casa, do casal ou dos meninos. Ela não queria de maneira nenhuma usar a pia do banheiro do quarto que lhe foi destinado e onde estava sua caixa com a areia para as suas necessidades. Parecia querer marcar terreno, mostrando que tudo na casa era seu.
Lindinha com seu charme encantava a todos. Já sentava com seu Mário no sofá da sala, com dona Jane quando ela ficava zapeando e sempre estava nos braços de Júnior, que era quem mais a paparicava e era também o mais chameguento por parte dela. Douglas era o menos ligado à ela, mas vez por outra  era visto brincando com a gatinha.

NASCIMENTO E MORTE DOS FILHOTES

Com mais ou menos dois meses na casa de Júnior, Lindinha deu a luz a quatro gatinhos.  No outro dia após o nascimento, já amanheceu um morto. Ela não largava os gatinhos, protegia até de olhares,  mas talvez por inexperiência, eles não conseguiam mamar adequadamente. Tanto que três dias depois de nascidos só restava um gatinho. O pequeno era arrastado pela mãe que parecia superproteger entendendo que de seus quatro filhos, só restava um.
Depois de uma semana o gatinho já se arrastava de um lado para outro. Era uma luta para ninguém pisar no minúsculo animal, porque ele se metia em todos os lugares. Só parava quando sua mãe o arrastava para dar de mamar. 
Crescendo, o gatinho observava sua mãe que ficava na varanda do apartamento. Ela  parava, olhava  para baixo, para cima, observando os passarinhos ou outros bichinhos voadores. 
Um dia, o gatinho desapareceu. Quando sentiu falta do filho, Lindinha ficou correndo de um lado para outro procurando o filho. Mas a notícia veio logo depois pelo interfone. Foi o porteiro quem deu  a notícia de que o corpo do pequeno gatinho fora encontrado sem vida. Ele, inocentemente, se jogara do nono andar e morrera.
Lindinha não se cansava de andar perdidamente pelo apartamento.  E estranhava até ao Júnior. Ia para a varanda e olhava lá de cima, parecendo querer se jogar à procura do filho.
Passou vários dias assim. Mas com alguns dias a tristeza passou. A gata voltara a brincar mais com todos.
Poucos meses após perder seus filhos, Lindinha começou  a passar a noite em claro. Chorava, miava quase a noite toda. Ninguém conseguia dormir com o choro da gata.  Júnior consultou a várias pessoas e falaram que ela estava no cio. -Todo cuidado é pouco. Ou dá injeção ou castra -falou sua amiga Clarissa. E foi o que foi feito. Lindinha foi levada a um veterinário que a castrou. A gatinha sofreu vários dias, foi feito curativo, mas enfim Lindinha estava sã e salva, tranquila.

LINDINHA, O XODÓ DE TODOS

Hoje, um ano depois, Lindinha é um membro da família. Todos os dias às seis da manhã ela está na porta do quarto de seu Mário aguardando que ele ponha sua comida e depois abra a torneira para ela beber água. Após estar alimentada e matar a sede, Lindinha fica à espera de que os moradores da casa um a um se levante para pular em cima, querendo carinho. Júnior ainda é o bem amado dela. Simplesmente porque a põe nos braços e libera sua cama pra ela dormir quando ele não está. É cheirosa, presta atenção a tudo e sempre se senta ao lado de quem está vendo TV na sala, principalmente seu Mário.
-É uma criança. Brinca, presta atenção a tudo, reclamava quando não lhe dão atenção, é uma gata encantadora. Aliás, uma gata encantada.
Essa é Lindinha.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

UMA HISTÓRIA DE AMOR

-Onde estou? -Que lugar é esse? -Quem me trouxe aqui? -perguntava Joana assustada sem entender como foi parar naquele lugar, para ela estranho.
-Calma, calma. Está tudo bem, foi eu quem lhe trouxe. Sou o Fernando.
-Quem é você? Por que me trouxe pra cá? -Indagava Joana quase em lágrimas.
-Estávamos em um bar, eu em uma mesa e você estava em outra, sozinha. Já era bastante tarde, o bar estava fechando e você cochilou. Me preocupei e achei melhor trazer você pra minha casa -respondeu Fernando um pouco assustado com a reação da moça.
-Me leve embora, por favor -pediu Joana ao rapaz.
-Ok -respondeu Fernando -e continuou: -Você não quer tomar uma banho?
-Não, não -respondeu Joana apresada.
-Tenha calma. Já que você não quer, vou eu tomar um banho e depois vamos. Se quiser tomar um café, tem pronto. Pode pegar -ofereceu Fernando.
Joana estava abatida. De ressaca e com a cabeça zumbindo. Havia discutido com a mãe na noite anterior e resolveu sair para relaxar. Tomou várias doses de caipirinha, bebida destilada que não tinha costume de beber e não aguentou  Ficou só o bagaço. Embriagada foi ajudada pelo jovem Fernando, que a levou para sua casa.
A casa de Fernando era realmente humilde. Bem diferente da de Joana, um apartamento de três quartos que seu pai, separado de sua mãe já há alguns anos, havia comprado pra família.
-Vamos -chamou Fernando. -Onde você mora? -perguntou.
-No bairro do Marco, mas pode deixar que eu vou só -respondeu. -Queria saber se você usou preservativo comigo, pois não lhe conheço e de repente estou na sua casa, na sua cama...
-Pode ter certeza que não lhe toquei -respondeu Fernando, demonstrando sinceridade.
-Não acredito -respondeu Joana. -Os homens são todos canalhas -garantiu.
-Pois é, acho que eu escapei, pois não lhe toquei de forma alguma. Lhe levei para minha casa para não deixá-la à mercê de bandidos que andam pela noite e como você não estava bem seria alvo fácil. Seu celular está ai e se você tiver dinheiro na bolsa, pode pegar, porque eu nem abri -garantiu o jovem, enquanto saíam do pequeno quarto onde ele residia nos fundos de uma residência na Cremação.
-Te agradeço. É porque sou muito desconfiada, cismada com os homens. Tenho 21 anos e só tenho levado cacetada de pilantras. Pior que briguei com minha mãe,  mas ela está coberta de razão, pois me envolvi mais uma vez com uma pessoa errada -confessou Joana, mais calma.
Os dois caminharam para uma parada de ônibus onde Fernando rumaria para o comércio, onde iria ver umas coisas.
-Vou para minha casa. Mais uma vez te agradeço e queria, se você puder me dar, o seu numero -pediu Joana.
-Olha, tranquilo. Você dá um toque pra eu pegar o seu, ok? -sugeriu o jovem.
Joana foi pra sua casa de cabeça fria, pois tinha certeza que Fernando tinha sido um anjo em sua vida. Imaginou se o rapaz não a tivesse levado pra sua casa teria sido alvo fácil para os bandidos.
-Sim, dona Joana onde a senhora passou a noite? -perguntou sua mãe, dona Ester.  -Mais uma vez
na farra? -completou quase agressivamente a ainda jovem senhora mãe de Fernanda.
Mamãe, deixe eu descansar um pouco. Depois conversaremos -pediu a jovem já um pouco recuperada da noite anterior.
Tinha ido dormir tipo 2 horas da manhã. Dormira bem, mas a ressaca de caipirinha mexeu com sua cabeça que estava pra explodir.
Já era perto das 11 da manhã, ensolarada e bonita de sábado. Joana estava deitada mas dormiu muito pouco. passou a maior parte do tempo acordada, pensativa na discussão que tivera com a mãe e com o porre que tomara. Imaginava que cara bacana tinha sido o Fernando. Por que ele não se aproximara dela, não abusara dela? Será que ainda existem homens assim? -pensava sem parar com seus botoes.
Estava desnorteada. Não sabia bem o que fazer. Tinha brigado com o ultimo ficante, pois o cara não a levava ela a sério e tinha inclusive dado em cima de uma de suas amigas.
Parara de estudar. Tinha trancado a faculdade faltando apenas três semestres para concluir. Já estava parada de estudos há quase um ano. Queria continuar, mas não sabia se era bem isso que queria.
Resolve ligar para sua melhor amiga. -Renata? tudo bem mana?
-Oi Jô. Que houve, com você mana? -perguntou. -Sua mãe me ligou duas vezes, até meia noite de ontem. Onde você se meteu? -insistia Renata
-Tomei um porre, queria ficar só. Fui arar na casa de um carinha aí -respondeu Joana.
-Cruzes! -admirou-se Renata. -E como foi isso? -indagou.
-Nem eu sei. Só sei que o cara me tratou muito bem, não mexeu comigo, me deixou hoje cedo na parada de ônibus e estou intacta, com celular e tudo mais -contou Joana à amiga, que também sorria admirada.
-Vamos sair hoje? -convidou Renata -Queria saber toda a história.
-Não mana. Hoje não -respondeu Joana. -Tenho que ter uma conversa com a mamãe hoje e vou definir minha vida -respondeu a amiga, desconversando.
-Sim Joana, o que foi que houve que você passou a noite fora, não me atendeu no celular... Fiquei como louca, estava dando um tempo pra ir na polícia -perguntou dona Ester, sua mãe.
-Mamãe a sra. não me entende. Estou no maior sufoco e a sra. só cobra de mim -desabafou Joana.
-Eu não lhe entendo, né? Está no sufoco. Engraçado que eu recebo uma pequena ajuda de seu pai e tenho que trabalhar, pagava parte de sua faculdade, você trancou e eu que não lhe entendo! -reclamou dona Ester.
E continuou no sermão: -Que que você quer? Ficar com esses oportunistas que ficam com você lhe usando e abusando e não pensam em nada? -jogou na cara sua mãe. -É isso? -perguntou.
-Mamãe não vamos discutir mais. Vou dar um jeito na minha vida. Já decidi que vou de qualquer maneira arranjar um trabalho, dispensar sua mesada. Quero, se for o caso, arranjar um outro lugar pra ficar -disse Joana decidida.
-Minha filha não é assim -falou mudando o tom dona Ester. O que quero na verdade é que você crie juízo, fique bem, veja com quem se mete e volte a estudar. Acho que já está bom de farra, brincadeira -arrematou dona Ester.
Joana calou-se,  foi para a sala ver TV e pensar no que realmente queria e iria fazer.
Pegu o telefone e ligou para Fernando.
-Oi, quem é? -perguntou Fernando.
-Oi, é Joana. Queria lhe agradecer e dizer que você foi uma pessoa muito legal me levando pra sua casa e me salvando de ser alvo de bandidos. Muito legal mesmo! -agradeceu Joana mais tranquila e com a cabeça menos doida da ressaca matinal.
-Que é isso. jamais poderia deixar você num local daqueles sozinha. Já era mais de uma da manhã e tranquilamente o perigo estava à nossa espreita -garantiu Fernando.
Você mora só? -perguntou Joana -Sim, meus pais são do interior. Trabalho e estudo aqui, por isso moro naquele cafofo que com certeza você não gostou. Só uso mais pra dormir mesmo -respondeu justificando Fernando.
-Vou gravar seu número aqui. Podemos marcar pra nos encontrarmos e batermos um papo.? Até tomar umas, contanto que não sejam tantas como ontem -convidou o rapaz.
-Ok. legal. Não te preocupa que o que aconteceu não vai se repetir. Ontem foi um caso especial. Não costumo beber caipirinha. Gosto mesmo é de uma cerveja  -respondeu Joana aceitando o convite.
Marcaram para o outro dia, à tarde, num bar perto da Doca.
O domingo estava ensolarado, parecendo o dia anterior. A promessa era de um dia bom, dava praia, piscina e passeio ao ar livre. Embora o mês fosse dezembro, não havia sinais de que a chuva aparecesse para atrapalhar qualquer encontro, mesmo que fosse ao ar livre. Fernando na verdade não gostava muito da Doca. Preferia um bar mais periférico, onde pudesse conversar sentindo a brisa do tempo paraense, onde aquele calor dá sempre vontade de beber mais uma gelada. Mas como como a proposta do local foi de Joana e era o primeiro encontro, foi.
-Sinceramente como quando acordei ontem fiquei com medo. Pensei que tinha sido estuprada, abusada, roubada e tudo mais. Jamais imaginei que você não teria feito algo comigo -confessou Joana, agradecida pelo bom comportamento de Fernando.
-Imagina. Sou de uma origem humilde, não tenho maldade -disse Fernando.  -Eu também sou -quase interrompeu Joana.
Os dois conversaram sobre tudo. Casa, família, estudos, amor. Joana contou que trancara a faculdade de Bioquimica que fazia, e estava prestes a terminar. -Estou até pensando em voltar a estudar - falou. Lembrou dos atritos com a mãe e do desejo de trabalhar e morar só.
-Olha Fernando -disse Joana já meio íntima -acho que tenho que dar um jeito na minha vida. Já tenho 21 anos, nunca trabalhei, vivi sempre ás custas de minha mãe, e pior que reclamo muito. Tenho que rever muitas coisas -disse baixando a cabeça Joana.
-Joana eu trabalho desde cedo. Vim pra Belém pra continuar meus estudos. Sou de Tomé-Açu, onde meus pais são pequenos agricultores, me mandam um pouco de dinheiro, mas preciso trabalhar, porque você sabe, a gente bebe um pouco, tem um cinema, e isso eles não podem bancar. mMas estou bem -garantiu o rapaz.
Trocaram alguns carinhos mas em forma de olhares e nas mãos;  nada de beijos e marcaram outro dia.
Na semana seguinte os telefonemas foram muitos. Fernando demonstrava muito interesse por Joana. A moça retribuía, ligando duas ou três vezes ao dia.
-Acho que estou gostando do Fernando, Renata. O cara é uma figura diferente, bom caráter -dizia empolgada Joana à amiga.
-Vai fundo mana. Se o cara é legal e tu se sente bem, vai firme -aconselhava Renata.
A conversa entre Fernando e Joana evoluía e dava um certo ar de avanço entre os dois. Joana já havia até desistido de sair de casa, por ora. Também havia já conversado com a mãe que iria procurar emprego e retornar à faculdade de Bioquímica.
-Minha filha, você tem todo meu apoio. Só não entendo porque você não trás esse rapaz aqui, o Fernando, Queria conhecê-lo. Afinal, você é minha única filha e preciso saber com quem você anda -apoiava e ao mesmo tempo reclamava dona Ester.
-Mamãe vou trazer o Fernando aqui. Mas não pense que ele é rico. É uma pessoa simples, não tem carro como alguns de meus amigos, está estudando, se forma daqui há um ano em Odontologia. Mas é um cara que eu parei nele. Gente do bem -garantia empolgada Joana, sob o olhar incrédulo da mãe.
Joana e Fernando continuaram se encontrando, agora com mais assiduidade. Quase todos os dias o casal estava junto. Fernando aguardava o convite da namorada para ir em sua casa, conhecer dona Ester.
-Será que sua mãe vai gostar de mim, Joana? -questionava Fernando. -Sou um cara simples, do interior, minha família já te falei, é do meio rural, mas são gente de bem -garantia o rapaz.
Foi num sábado, pela manhã, depois dos dois se encontrarem, que Joana convidou Fernando para ir em sua casa. O rapaz estava na maior expectativa, não sabia como começar a falar com a mãe de sua amada.
-Espero não ficar nervoso perante sua mãe. Você diz que ela é rígida -explicava temeroso Fernando para Joana.
-Olha, é mas não é. Uma pessoa que hoje eu vejo como justa, que só quer o meu bem. E você pode ter certeza, é o meu amor  -se declarava romanticamente Joana.
Ao chegarem no apartamento de dona Ester, bem aconchegante, Fernando foi muito bem recebido pela mãe de Joana.
-Olá, Fernando. Muito prazer -cumprimentou dona Ester.
-O prazer é meu, dona Ester, Já a conhecia de nome e de fama. Joana fala muito bem da senhora -respondeu Fernando um pouco nervoso, mas feliz por conhecer a sogra.
Os três sentaram, logo depois almoçaram e depois a conversa continuou. Dona Ester quis saber a cidade natal de Fernando.
-Joana falou que você é de Igarapé-Açu, né? -perguntou dona Ester.
-Não. Sou de Tomé-Açu -corrigiu Fernando.
-Tomé-Açu? mas eu também sou de lá, de Quatro Bocas! -admirou-se dona Ester.
-Minha família mora entre Quatro Bocas e Tomé-Açu, que é a sede -disse admirado Fernando.
Dona Ester ficou paralisada por alguns segundos. Não estava entendendo tanta coincidência. Aquele rapaz parecia ter  alguma coisa de familiar para ela. Pegou um copo de água pra si e ofereceu também para Fernando e para a filha. Enquanto bebia a água, quis saber da família de Fernando.
-Meu pai é um modesto agricultor, planta pimenta do reino e outros culturas em Tomé-Açu e minha mãe do lar -respondeu Fernando, falando também o nome e sobrenome de seu pais.
Dona Ester mudou de cor. Pediu licença e saiu para seu quarto, alegando sentir-se um pouco mal.
O casal ficou sem entender muito o rápido mal estar de dona Ester. Fernando ficou calado. Joana sorriu com o canto da boca, mas resolveu ficar na sala conversando outro assunto com o namorado.
Dona Ester permaneceu em seu quarto pelo restante do dia. A filha saiu com o namorado para um passeio. Preferiram não falar sobre dona Ester, sua surpresa. Mas na verdade, ambos ficaram encucados com a reação da mulher quando ouviu os nomes e sobrenomes dos pais de Fernando.
De volta pra casa, já à noite, Joana se reolheu para seu quarto.
-Mamãe o que houve? por que a sra reagiu daquela maneira quando o Fernando falou o nome da família dele? -indagou meia perplexa Joana no outro dia cedo, quando acordou e sua mãe já estava na mesa à sua espera para o café da manhã.
-Minha filha é uma longa história que eu nem sei se devo contar. Mas sinto que tenho o dever de lhe falar -disse dona Ester.
-Por favor, mamãe. Estou sem entender nada -insistiu Joana.
-Minha filha, a mãe de Fernando, Lia, foi minha colega de infância. E namorou com seu pai antes de nos casarmos. Ela foi inclusive a primeira namorada do Lucas, seu pai, quando ambos tinham mais ou menos 15 anos. Lucas namorou com  a Lia durante uns quatro anos, até que brigaram, acabaram  e poucos meses depois começamos a namorar e com um ano depois nos casamos -contou dona Ester.
-Sim, mas onde é que o Fernando e eu entramos nessa história? isso é passado, é coisa de vocês! -arrematou um pouco irritada Joana.
-Saí de Tomé-Açu para estudar, o Lucas só veio depois de mim. E os comentários da época diziam que Lia ficou grávida e o pai da criança era o Lucas. Se for verdade, o Fernando tem muita chance de ser seu irmão. É uma coincidência novelesca, mas o fato tem que ser apurado, pois a Lia, na verdade teve três filhos. Um deles pode ser seu irmão -enfatizou dona Ester.
-Sim, mas não se sabe a verdade, se a primeira gravidez de dona Lia foi o Fernando e se realmente era filho do papai -argumentou Joana, apesar de demonstrar um pouco de preocupação.
-Não tenho como descobrir. Seu pai não está mais conosco e eu nem sei onde ele mora. Só quem pode falar o que realmente houve e quem é o pai de Fernando ou de um dos outros filhos de Lia é a própria Lia ou seu pai, Lucas, se conseguirmos localizá-lo. Pra mim ele sempre negou -garantiu dona Ester.
Joana saiu de casa encucada com a parafernália que foi a história de sua mãe e seu pai na juventude. Não sabia como conversar com Fernando. Nesse dia rodou pelo comércio e no final da tarde resolveu voltar pra casa. Fernando havia ligado duas vezes, mas ela não atendera. À noite, atendeu à ligação do namorado.
-Oi amor.  Desculpa não ter te atendido. Estava meio grilada e resolvi dar um balão pelo comércio. Mas está tudo legal agora -explicou Joana ao namorado.
-Mas o que houve? Não dá pra conversar agora? -insistiu Fernando.
-Não, amor. Melhor amanhã. Vamos ter mais tempo.
Marcaram para almoçar no dia seguinte. Foram a um pequeno restaurante perto da casa de Fernando.
Joana contou toda a história que a mãe lhe repassara para o namorado, que ouviu atônito. -Mas como pode isso? -indagou Fernando sem entender nada.
-Quer dizer que seu pai namorou com a minha mãe na juventude? mesmo? É isso? Sua mãe tem certeza do que falou? -indagava insistentemente Fernando.
-Olha, ela só não tem certeza se você é filho do meu pai. Isso só quem pode falar é sua mãe -garantiu Joana.
Fernando achou melhor não ligar para sua família. Marcou para irem, os dois, à Tomé-Açu onde conversariam com sua mãe. Mas depois imaginou que o assunto era meio complicado para conversar lá com seu pai presente. Não sabia qual seria a reação dele. Resolveu que chamaria sua mãe, Lia, para vir a Belém. Para isso inventaria alguma coisa, para não adiantar nada sobre o assunto.
E foi o que fez. À noite, de sua casa, ligou para a mãe dizendo que precisava conversar com ela, apresentar-lhe sua namorada. -Sai mais em conta a sra vir aqui, pois a gente indo o custo é bem maior. E a sra me visita, né? -tentou convencer Fernando sua mãe.
Lia aceitou o convite e garantiu que se encontrariam em uma semana. Ela viria resolver alguns assuntos e passaria dois dias com o filho.
-Mamãe essa é Joana, minha namorada -apresentou Fernando à sua mãe, Lia.
-Oi Joana. De minha parte é um prazer.  O Fernando já estava na hora de arranjar uma namorada fixa, certa -comemorou dona Lia.
-Muito feliz de conhecer a senhora. O Fernando fala muito da senhora. Estávamos programando isso já há tempos -completou Joana sorridente.
Conversaram por mais de uma hora. Foram buscar as origens de cada um. Até que chegaram na família de Joana.
-Mas você nasceu em Belém ou em Tomé-Açu? -indagou Lia, depois de Joana dizer que tinha parentes na terra dela.
-Não. de Tomé-Açu é minha mãe e meu pai -respondeu quase suspirando Joana.
-Mesmo? Qual o nome deles? -perguntou Lia.
-Meu pai é Lucas e minha mãe Ester -respondeu Joana.
Dona Lia ficou calada. Depois de alguns segundos perguntou como ia a mãe de Joana.
-Poxa. Como o mundo é pequeno, né? Acho que conheço sua mãe -garantiu Lia. -Como está ela?
-Minha mãe está bem. Meu pai é que não vemos há muito tempo -respondeu Joana.
Dona Lia já imaginou mais ou menos o assunto. Quando Joana falou o nome de Ester e Lucas ela compreendeu o que o filho queria saber. E foi logo adiantando:
-Meu filho pode ter certeza que você não é irmão de Joana. Os boatos e mexericos da época sobre o filho que poderia ter sido de Lucas, infelizmente recaíram sobre minha primeira gravidez, que é sua irmã Patricia, que pode ter certeza é filha também de seu pai, Jonas. Realmente, o meu envolvimento com Lucas foi muito grande, quase cinco anos. Mas os boatos não tinham fundamento, eram só fofocas sobre minha primeira gravidez.  Lucas já tinha outra namorada, a Ester e eu já estava com seu pai. Patrícia é sua irmã legitima, por parte de pai e mãe. E pode ter certeza que eu falo isso pra Ester, porque nunca tive raiva dela, apesar de não nos falarmos há muitos anos -declarou peremptória dona Lia.
O peso havia saído da cabeça do jovem casal. Imediatamente ligaram para dona Ester e Joana deu a noticia. Marcaram para irem no outro dia na casa da mãe de Joana. Lia aceitou de primeira.
-Nunca tive raiva de você, Ester. Fomos amigas de infância. Lucas não deu certo comigo e parece que também não deu com você. Mas é a vida. Espero que nossos filhos sejam felizes. Adorei sua filha e espero que seja minha nora -finalizou Lia abraçando a velha amiga.