quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

COM CARINHO E COM AFETO

A noite para aquele grupo parecia mesmo uma criança. Os cinco bebiam desde as quatro da tarde, já era mais de 10 da noite e tudo parecia muito bem, tudo normal, a não ser alguns aconchegos e o papo já famoso de Rui Gonçalves, velho boêmio do bairro da Marambaia, conhecido pelos mais antigos parceiros desde os anos 70, como Rui Cheiroso.
Rui era tranquilo, gostava de uma porrinha, um carteado, dominó e era o cobra da sinuca. Tinha sempre dinheiro, mas na realidade não se sabia em que trabalhava. Uns diziam que era seu avô que bancava; outros, que a mãe tinha umas casas alugada e sustentava o filho único.
Unhas sempre pintadas, cabelos com bastante brilhantina -Rui era do tempo do óleo Glostora e não relaxava, andava sempre com o cabelo brilhando, na maior pínta.
Carro não tinha, mas para as distâncias maiores andava em sua bicicleta, sempre enfeitada e com direito a luz atrás para evitar acidentes. Sua conversa era sempre na base de muitas gírias, quase todas bem antigas, dessas que não se ouve mais; mas era educado e não tinha envolvimento com coisas erradas. -Meu lance é só o meu cigarro e o gelo", gostava de deixar bem claro.
Rui era cavalheiro, e adorava reverenciar as mulheres, sempre usando um carme de bom malandro.
-A gente poderia fazer um rolê para outras paragens, né gatas?  O Cheiroso aqui está muito afim de emendar pela noite, inclusive poderíamos ir daqui pra Icoaraci. Tem ambientes simpáticos por lá, que com certeza dá pra gente curtir. Tá afim Fernando? -indagou Rui para o amigo que com ele estava com as três garotas. 
-perfeito meu mano. Acho que as gatinhas vão querer acelerar com a gente. Vamos pegar um táxi -concordou Fernando.
As três garotas,  Cláudia, Alice e Nazaré eram todas do bairro vizinho, a Nova Marambaia. Haviam saído para o comércio e lá perto da Igreja das Mercês, encontraram Rui e Bernardo, e como uma delas, Cláudia, conhecia Rui, pararam, começaram a conversar, fora convidadas a tomar uma gelada. Tomaram três cervejas no Ver-o-peso e depois foram para mais perto de casa, a Marambaia, onde no momento decidiam se iam ou não para Icoaraci. Alice era a mais nova das três, tipo 25 anos, solteira, mas com namorado. Nazaré era também jovem, 31 anos, era casada, e segundo falava para as amigas, estava em litígio com o marido, que era motorista de ônibus. Já era casada há oito anos e dizia que não estava mais dando certo. 
-Sinceramente como não aguento mais aquele traste que eu tenho em casa. Homem que não valoriza a mulher que tem. Chega em casa todo dia tarde da noite e ainda bebido. Nunca me leva pra canto nenhum, e pra me dar dinheiro pra comprar algo pra mim e pra meu filho, é um sufoco. Tenho que tirar do bolso quando ele está dormindo. Credo de vida! -se lamentava.
Rui achou que estava dado o bote. Não queria Cláudia por ser, segundo ele, muito amiga e mesmo o Fernando já estava de olho. Alice era novinha e ele, já com 52, preferia uma mais madura, segundo ele, e experiente.
-Sabe Naza, me amarei em você. Pena você ser casada. Poderia ser a mãe dos meus filhos! -disse em tom de galanteio Rui.
-Pena que já sou operada e filho já basta o meu bebê de sete aninhos. Sobre ser casada, tem uma vírgula ai. Estou em tempo de quase separação. Não estou legal com o tal lá! -respondeu Nazaré sorrindo.
-Realmente, tem homem que não merece o bibelô que tem em casa. Tenho certeza que você é uma santa, além de ser linda mulher, daquelas que o cara fica arriado, como estou! -arrematou Rui,
Cláudia, que era conhecida de Rui,  decidia se iam ou não para Icoaraci. Fez sinal para as colegas que levantaram o dedo dando positivo. Agora era acertar o táxi, pois de ônibus não era muito legal, não.
Bernardo, até que já havia concordado. mas sentindo que talvez as meninas descem pra trás e como estava com dinheiro mas não podia estourar muito, pois tinha despesas em casa, propôs a Rui para irem para outro bar no mesmo bairro.
-Taí. Tô dentro! -gritou Alice ao ouvir o convite de Bernardo. -Leva eu também! -emendou Cláudia. Nazaré completou: Tô no jogo! E saíram os cincos de táxi para outro bar, mais perto da Tavares Bastos.
Já era quase 23 horas quando Nazaré -a única realmente que era comprometida, igual a Bernardo, que também era casado mas não tinha essa de horário -começou a se beijar com Rui. Beijos e abraços, toques mais sensuais, numa paixão inesperada meio louca tomou conta dos dois. Alice observava a amiga e cutucava Cláudia, que tentava das tentativas de Bernardo. -A doida  pirou! -comentou Alice com Cláudia, que sorriu e gesticulou com a cabeça.
Cláudia terminou cedendo ao charme de Bernardo, que entrou de chapa na morena. Tava tudo feito. Só Alice estava sobrando. Disse logo que não entraria em nenhuma brincadeira, tipo três mulheres e dois homens.  -Ainda não aprendi a gostar de mulher! -disse a mais jovem das três garotas, deixando claro que sua onda era outra. -Fico na minha e vocês curtam à vontade! -definiu Alice.
Decidiram que pegariam um táxi, deixariam Alice perto da casa dela e iriam os dois casais para um motel. -Melhor a gente dá a grana para ela ir, já que não quer ficar com a gente! -arrematou Bernardo.
-Não! Deixamos ela no caminho e vamos viver nossas vidas! -finalizou Rui decidido.
Já se preparavam para pegar um táxi, quando um carro parou perto deles. Do veículo desceu um homem, muito rápido e demonstrando estar meio transtornado, quase gritando, rumou em direção á Nazaré.
-Sua puta,agora você me paga! -disse o homem, tentando agredir a mulher, que se esquivou de qualquer maneira.
-Calma, amigo. Qual  problema? -perguntou Alice, puxando o valentão pelo braço.
-Que que você quer, sua piranha?  -perguntou agressivamente o homem. -Essa vagabunda aí é minha mulher! -apontou para Nazaré. -Sim, e ela não pode beber uma cerveja comigo, meu namorado e o namorado da minha amiga? Você por acaso é dono dela? E por que fica chamando ela de puta, vagabunda, me difamando e agredindo todo mundo? -e partiu pra cima do valentão, já que era a mais nova, mas também a mais alta e demonstrou ser muito corajosa.
-Camarada, manera aí. Fica frio, não provoca. Tu tá maluco? -perguntou Rui na tranquilidade.
-Tu chega, não conhece as pessoas, agride minha amiga, a mim... Já pensou se o namorado dela não fosse tranquilo? Sabia que ele é policial e poderia encher tua cara de bala, otário? -gritou Nazaré, cheia de moral deois da ação da amiga Alice e do esperto Rui.
Mário, o marido valentão, baixou a cabeça, pediu desculpas,, olhou para a mulher, nada falou e foi saindo de fininho. Desapareceu na noite, deixando os cinco amigos na tranquilidade.
O táxi chegou, Alice sentou ao lado de Rui, Nazaré no banco traseiro numa ponta, Cláudia na outra e bernando no meio, imprensado pelas duas.
Em vez de deixarem Alice no meio do caminho, foram os cinco para a Locomotiva, onde fizeram a festa. Sorriram muito e agradeceram tudo ao valentão marido de Nazaré.

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