quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre o filme "Uma noite em 67"

O filme "Uma noite em 67" é interessante, pelo resgate que faz de um período dos mais difíceis da historia  politica e cultural brasileira e ao mesmo tempo mais importante, porque mostra o surgimento dos grandes  nomes de nossa musica, que mesmo tendo passado o longo espaço de 43 anos, ainda estão aí, cheios de vida, de talento,  produzindo muito e coisas de qualidade. Foi o último festival realizado pela TV Recorde, que na época era quem dava as cartas na TV brasileira.
As entrevistas são meio pobres, poderiam ser mais abrangentes. Por exemplo, o depoimento de Sérgio Ricardo, que proporcionou o histórico e inesquecível momento do arremesso do violão na platéia que insistia em vaiá-lo quando ia interpretar sua música "Beto bom de bola". Sérgio, que além de bom compositor é cineasta, hoje beirando os 80 anos, falou muito pouco da situação que provocou seu bravo gesto, que gerou muita polêmica na época, crítica dos organizadores e até uma inusitada manchete de jornal: "Violada na platéia". O artista, hoje não mais tocando violão mas somente piano, limitou-se a dizer que hoje não faria mais aquilo, mas em nenhum momento esclareceu a razão de sua perda de humor.
Fato também interessante no filme foram  as entrevistas feitas na época pela jovem repórter Cidinha Campos com Roberto Carlos e com Chico Buarque. Os dois, notadamente tímidos e em muita coia a dizer à boa repórter Cidinha, se enrolaram todo. Chico, que já era famoso em festivais, não explicou qual o sistema de música adequado para Festival. E Roberto Carlos depois de gaguejar muito, disse que "o júri sabe das coisas e qualquer que seja minha classificação vou encarar como encaro tudo: com tranquilidade".
Caetano também deixou a marca registrada de seu talento no filme, bastante explorada pelos diretores. Foi categórico em dizer que não apoiou nem ele nem Nara Leão- a passeata contra a guitarra elétrica, que levou às ruas nomes como Jamelão, Chico Buarque, Sérgio Cabral, Gilberto Gil e mais uma pá de nomes importantes da MPB, que achavam que guitarra era como comunista: "comia criancinha". Gil disse que foi no embalo dos outros, para não contrariar ninguém. Já Chico disse que entrou na tal passeata  porque estava tão bêbado que nem se lembra de nada.
Caetano garotão comandando a massa.
No mais só uma colagem de pedaços de filmes, não tão bem montados, mas importantes porque mostraram o genial letrista Gilberto Gil cantando com Os Mutantes "Domingo no Parque"; a força poética e musical de Capinam e Edu Lobo na belíssima "Ponteio"; a inovadora mensagem tropicalista de Caetano Veloso em "Alegria, Alegria", com roqueiros argentinos "Beat Boys" (o mais aplaudido) e uma das obras primas de Chico Buarque de Hollanda "Roda Viva", com o vocal simplesmente genial do MPB-4, sob os arranjos do maestro Magro.
A idéia foi muita boa. Excelente até, repito, pelo resgate. Mas que dava para fazer algo melhor, isso com certeza dava.

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