segunda-feira, 27 de maio de 2013

Cacá Diegues: Cinema é o avozinho da família"

Dia desses li interessante entrevista em revista de circulação nacional, com o genial cineasta brasileiro Carlos Diegues, o nosso Cacá.
Dono de uma vasta produção cinematográfica Cacá, que mesmo tendo um carinho muito especial pelo Rio de Janeiro, é alagoano, tem em seu currículo filmes que marcaram época, são ícones de nosso cinema e  recordes de bilheteria como "Xica da Silva" (1976), com a bela Zezé Mota e "Bye, Bye, Brasil", de 1981, com  José Wilker e Bete Faria.
Aos 72 anos Cacá é um homem moderno, vive seu tempo. Foi perseguido pela ditadura, juntamente com sua esposa na época, a cantora Nara Leão, mas mesmo assim não é a favor de indenização, tampouco de salário por ter sido exilado político. Sobre a pergunta o que achava das indenizações a quem foi perseguido, foi taxativo:  "Prefiro não responder", mas adiante disse que "ideal não pode ser assalariado".
Cacá não para de trabalhar. Atualmente tem um filme seu em cartaz, "Giovanni Improtta", com José Wilker,  e trabalha o documentário "Favela gay".
Reconhecido internacionalmente, Cacá recebeu no mês de abril, um troféu do cineasta Costa Gravas durante o Festival Brasileiro de Cinema em Paris, na França, que o homenageou.
O cineasta acha que no momento "não nos sentimos mais representados no Congresso Nacional", mas ao mesmo tempo acha que "vivemos um período de ouro da história republicana", passando a elogiar todos os presidente que vieram pós-Collor de Mello que, segundo ele, "por mais que a gente goste sempre de um mais que do outro, eles são todos bons, pois temos uma democracia consolidada".
Diegues, que já residiu na Europa, mas que hoje mora no Rio de Janeiro com sua esposa, a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães, é de opinião que o país vai muito bem, porque "temos uma economia em ação, uma redistribuição de renda que é, pelo meno do ponto de vista  da consciência nacional, uma necessidade que ninguém nega mais. Então o Brasil melhorou muito", garante.
Cacá, na entrevista, coloca as UPPs (Unidade de Policia Pacificadora implantada em favelas cariocas) como o fenômeno mais importante do Rio de Janeiro dos últimos anos, "com repercussão no Brasil todo porque está acabando com a violência gratuita nas favelas e aproximando quem vive nas comunidades de quem mora no asfalto".
Ele aproveita para elogiar o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, a quem considera um herói nacional. "Converso muito com ele, é uma pessoa culta, de uma enorme delicadeza de pensamento e cuidado com o que faz com o outro". 
Cacá tem um importante trabalho como cineasta nas favelas do Rio de Janeiro, desde o "5x Favela", de  1962". O desdobramento desse trabalho foi o "5x Favela, agora por nós mesmos", em que os próprios moradores dos morros conduzem as narrativas, e agora o "5x Pacificação", pós UPPs. Na sequência o premiado cineasta brasileiro está produzindo o "Favela gay", que trata da homossexualidade nos morros".
Cacá: "Lobão não tem argumento, só exclamações"
Cacá está escrevendo sua biografia que é a própria história do Cinema Novo no Brasil. Segundo ele, deve dar umas 600 páginas "e isso porque estou suprimindo mais ou menos 300, porque ninguém vai publicar livro de 900 páginas".  No livro, Cacá tem um capítulo especial sobre seu amigo o cineasta baiano Glauber Rocha, um dos pais do Cinema Novo. "Tenho saudades do Glauber até hoje. Nosso último encontro aconteceu em Sintra, Portugal, um mês antes da morte dele. As notícias sobre seu estado físico eram assustadoras. Então Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Luis Carlos Barreto e eu concordamos em participar de um complô para convencê-lo a se tratar no Rio, cercado de amigos e familiares. Ele teve septicemia e embarcou para cá semiconsciente. Como Glauber sorria nesse últimos dias em que o vi vivo".
Segundo Cacá, Glauber, mesmo muito doente, chamou-o de "mestre", que era a maneira do cineasta baiano se comportar quando queria agradar alguém. "Falou com voz lenta, baixinho, de cansaço infinito. Tinha 42 anos e era o melhor de todos nós".
O cineasta tem uma opinião sobre as críticas porra loucas e oportunistas do cantor Lobão aos militantes de esquerda que lutaram contra a ditadura: "o Lobão faz o marketing da porrada. A melhor forma de aparecer é criando ma polêmica. Que é que está na moda? É Fulano. Então vamos falar mal de fulano. Mas isso não vai longe, porque não tem argumentos, só tem exclamações".
Cacá finaliza dizendo que o Cinema nunca vai acabar. "O mito da sala escura, tela grande, não vai acabar nunca, embora cada vez mais apareçam outros meios de difusão que se tornam até mais importantes".
E acrescenta: "mesmo com DVD, Internet, TVs pagas, o Cinema vai continuar. Ele é o avozinho patriarca dessa família".

Nenhum comentário:

Postar um comentário