Essa canção, de 1975, gravada no LP "Alucinação", em 1976, é uma das mais políticas do cantor e compositor Belchior. É um rock meio rural, lembrando um country americano. A letra é forte e trata com perfeita poética e política dos sonhos libertários de uma juventude que sofreu na pele a repressão. Cobra, com inteligência e uma revolta bastante revolucionária mas nada radical, o engajamento dos jovens para os movimentos populares, ao mesmo tempo que trata levemente de um dos grandes símbolos do movimento hippie, a flor.
A letra é perfeita e simplesmente linda, belamente elaborada por um artista que viveu as agruras da censura e as belezas dos movimentos libertários que desencadearam grandes e importantes revoluções sociais no mundo, nos EUA, na Europa e principalmente na Nossa América, além do frisson que causa pela própria concepção da música, que nos leva à outra importante revolução político-cultural que foi o movimento hippie, desencadeado nos EUA, a partir de protestos da juventude e grupos de rock à imbecil guerra do Vietnã, e seguido por jovens de todo o mundo nas décadas de 60 e início dos anos 70.
Curtam a música na voz de Belchior. E observem bem a riqueza literária da letra.
Não leve flores
(Belchior)
Não, cante vitória muito cedo, não.
Nem leve flores para a cova do inimigo,
que as lágrimas do jovem
são fortes como um segredo:
podem fazer renascer um mal antigo.
Tudo poderia ter mudado, sim,
pelo trabalho que fizemos - tu e eu.
Mas o dinheiro é cruel
e um vento forte levou os amigos
para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos,
e nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não.
Palavra e som são meus caminhos pra ser livre,
e eu sigo, sim.
Faço o destino com o suor de minha mão.
Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa
e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza.
- Sempre é dia de ironia no meu coração. (bis)
- Meu bem, é difícil saber o que acontecerá.
Mas eu agradeço ao tempo.
o inimigo eu já conheço.
Sei seu nome, sei seu rosto, residência e endereço.
A voz resiste. A fala insiste: você me ouvirá.
A voz resiste. A fala insiste: quem viver verá
outra legal é "Clamor no Deserto"
ResponderExcluirAs músicas de Belchior, quase em sua totalidade, são verdadeiras aulas de literatura. O cara sabe das coisas.
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