segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Tributo à Sérgio Sampaio

Não gosto muito do adjetivo, mas infelizmente existem na nossa cultura, seja literária, musical e até nas artes plásticas, os chamados "artistas marginais". Ou melhor "marginalizados".
Talvez até pela minha própria personalidade, um pouco também rebelde, questionadora, sempre contestadora e desacomodada com todo tipo de manifestação, sejam sociais, políticas e artísticas, sempre fui interessado pela obra desses artistas, que na verdade não têm nada de marginais, ao contrário, são gênios da criatividade, provocadores do novo e fugitivos da mesmice comercial.
Desde os primeiros discos a música de Raul Seixas impressiona, talvez pelo artista se um grande contestador. A princípio foi logo tido como "marginal"  principalmente por parte da crítica mais conservadora, que prefere rotular do que analisar realmente o talento do artista. Talvez porque não iivesse interesse de enxergar onde o poeta baiano queria chegar. 
A princípio despreocupado em fazer o sucesso sonhado pela maioria, Raul gostava de fazer suas composições -como gostavam de dizer os críticos-, "meio lunáticas", que na verdade eram crônicas poéticas onde o artista expressava seus conhecimentos filosóficos, metafísicos e até de super-heróis de histórias em quadrinhos ("krigha bandolo", "Super homem"), além de personagens da história e do dia-a-dia (Al Capone, Mequinho, Sílvio Santos), o que destoava totalmente do que a mídia comercial queria: o romantismo  piegas e açucarado do iê-iê-iê.
Raúl, mesmo assim, derrubou barreiras, não vingou com seus colegas da época de "Panteras", mas deixou seu nome gravado na história da MPB, figurando entre os 100 maiores atristas da música brasileira, segundo a revista "Rolling Stones". E, certamente para os admiradores do baiano, que teve que ser empurrado várias vezes para o sucesso pelo jovemguardista Jerry Adriany, que enxergava nele o novo, valeu o produto final da obra, pois sem deixar de ser rebelde Raúl Seixas, nem que tenha sido pós morte, hoje é reconhecido como inovador, um dos mais geniais artistas da nossa música.
Mas o artista que quero focar porque tenho por ele e por sua obra uma enorme admiração e que infelizmente a crítica e o povo brasileiro até o presente não o reconheceram, é o grande capixaba Sérgio Sampaio.
Sérgio foi músico, poeta, compositor e contestador, e mesmo tendo partido dessa para outra ainda jovem, aos 47 anos, deixou uma obra que precisa ser revisitada, mostrada e reconhecida como uma das mais notáveis de nossa MPB. Como Raúl Seixas, inspirado principalmente na boa e moderna poesia brasileira, em escritores e filósofos universais, Sérgio Sampaio é contemporâneo da nata da música brasileira, como Raul, Jards Macalé, Erasmo, Gilberto Gil, Caetano e até seu conterrâneo Roberto Carlos, para quem escreveu alguns poemas e canções críticas questionando o comportamento, a seu ver, egoísta do "Rei".
O cantor e compositor Sérgio Sampaio
Sampaio participou de festivais, fez parcerias com grandes nomes como Raul Seixas, Macalé, Raúl Sampaio  e composições próprias que infelizmente foram sempre rotuladas -como o próprio artista- como marginais.
Seu maior sucesso: "Eu quero é botar meu bloco na rua", que participou do Festival da Canção de 1972, foi sucesso no carnaval de 73 e até hoje é considerada uma das nossas mais belas Marcha-Rancho. 
Moderna, questionadora, inflamada, a música de Sérgio Sampaio foi sempre vanguardista, como a de Tom Zé, embora mais melodiosa e com o um melhor aperfeiçoamento estético.
Em 1998, quatro anos após sua morte prematura, vítima que foi de pancreatite, alguns amigos realizaram um show e gravaram um CD em que grandes nomes de nossa música gravaram as principais composições de Sérgio Sampaio. "Balaio do Sampaio" é uma pequena, mas justa homenagem, além do reconhecimento pelos próprios amigos do talento fantástico do artista nascido em Cachoeiro de Itapemirim, terra de Roberto Carlos. 
Chico César, Zeca Baleiro, Lenine, Renato Piau, Eduardo Dusek, que beberam da fonte inspiradora de Sérgio Sampaio, e amigos como Erasmo Carlos, João Bosco, João Nogueira, Jards Macalé, Luiz Melodia, Zizi Possi e Elba Ramalho homenageiam o grande artista Sérgio Sampaio no "Balaio", onde composições como "Rosa Púrpura de Cubatão", "Em nome de Deus", "Que loucura", "Velho Bandido"  e  o blue "Meu pobre blue", além da fantástica "Eu quero é bora meu bloco na Rua", fazem parte da bela homenagem, mas,repito, ainda pequeno reconhecimento ao trabalho deste genial artista cujo talento foi censurado pela ditadura e pelos esquemas comerciais da mídia, que ainda insiste em passar para o povo o equívoco cultural, a mesmice comercial, escondendo a genialidade de grandes artistas.

2 comentários:

  1. o cara é genial pra dizer o minimo,letrista mais profundo que eu conheço,a história torta dele mostra que houveram forças repressoras até mais eficazes que os nossos "queridos" (pra não dizer o contrário) militares,principalmente pq a ditadura do comercial só faz ganhar mais força em cima da arte.

    No dia 29 de Junho vai ter em sua cidade natal o show em sua homenagem com bandas locais fazenco covers,meu plano é estar lá

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    1. Hoje vou postar uma de suas mais lindas canções "Tem que acontecer", na voz de Zeca Baleiro. Curta lá, meu amigão.

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