quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os 110 anos de C.D.A, nosso poeta itabirano

O "Pensador" Drummond, homenageado em Copacabana
A obra de Carlos Drummond de Andrade, o mineiro de Itabira que estaria completando 110 anos hoje, começou realmente a se popularizar quando o piauiense Paulo Diniz resolveu musicar um poema seu, "José". Achei diferente a letra, rica, criativa e daí passei a prestar mais atenção e a admirar a obra de Drummond, embora já conhecesse o poeta, mas bem pouco, mesmo que tenha me envolvido muito cedo com a poesia, a literatura portuguesa e os poetas românticos brasileiros do século 19.
Um amigo jornalista, que já se foi, era tão fanático por Drummond que toda semana publicava um poema seu em um tablóide de literatura.  Eram sonetos, poemas livres, eróticos, críticos, saudosos, meu amigo era apaixonado pela obra de Drummond, que brincava com as palavras e tinha o poder mágico de enriquecê-las.
Em 1982, ouví toda uma entrevista sua pelo rádio, quando ele falou de sua vida, de seu amor por sua terra Itabira, das montanhas de ferro já não tão montanhas como na época de sua infância; dos amigos Pedro Nava, Cyro dos Anjos, Mário de Andrade, alguns próximos e outros aproximados através das correspondências que atravessavam os anos. As lembranças de nosso poeta maior se misturavam ao do menino magro e alto de óculos de aros finos.
Drummond é moderno aos 110 anos. O ENEM, que sábado mostra sua cara, que o diga. É o poeta-escritor mais presente, mais estudado. Que bom. Excelente que nossos jovens possam beber em fonte tão  inesgotável de poesia e literatura!
Drummond morreu em 1987, aos 85 anos. Escreveu  a vida toda, desde os 15, 16 anos. Participou de vários e importantes momentos do país. Escreveu poemas em dezenas de livros, além de ensaios, crítica literária e como jornalista crônicas semanais  no JB. 
Como amante da boa poesia e da obra de Carlos Drummond de Andrade, não poderia deixar passar em brancas nuvens o dia de seu aniversário. Como um homem de seu -e de nosso- tempo, Drummond era agnóstico mas romântico; de fala mansa, calmo, mas ligado em tudo. Na vida, na arte, na literatura. No seu tempo.
Aos seguidores e navegantes do Blog, um soneto de Drummond. Presente especial aos amantes da boa poesia.

Amor e Seu Tempo

C.D.A.

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

4 comentários:

  1. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra... Ele além de tudo era meio sacana.

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  2. JOSÉ
    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

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  3. Grande presidente do congresso internacional do medo

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    Respostas
    1. Drummond era apaixonadamente apaixonante... (Lyvia).

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