quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Meu encontro com Gonzaguinha

Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha, não foi somente um grande poeta e um dos melhores compositores de sua geração. Foi também um homem de seu tempo, militante político, revolucionário, de personalidade forte e temperamento contestador, tendo enfrentado com sua poesia e suas músicas a ditadura e a censura marcas do autoritarismo que dominava o país nas décadas de 60 a 80. Teve em sua carreira mais de 50 músicas censuradas. 
Foi um dos fundadores do Movimento Artístico Universitário (MAU), ao lado de outros nomes da MPB como Ivan Lins, Aldir Blanc e César Costa Filho, todos estudantes. Gonzaguinha formou-se em Administração na Cândido Mendes e desde os tempos de estudante, participante dos movimentos populares, intelectuais e políticos.
Em meados dos anos 80, Gonzaguinha veio a Belém para fazer um show convidado pelo Partido dos Trabalhadores. Confesso que não lembro se o poeta carioca cobrou alguma coisa para vir à nossa cidade, pois, vale lembrar que Gonzaguinha e também Belchior sempre participaram de eventos em prol dos movimentos políticos, populares e de esquerda, quase sempre sem receber cachê. Era uma maneira de interagir com os que lutavam pela democracia e pelas liberdades de imprensa e política no Brasil.
Marquei uma entrevista com o compositor e nos encontramos no hotel onde ele estava hospedado por volta das duas da tarde. De short de banho, na beira da piscina conversamos sobre tudo. Política, cinema, futebol e, principalmente sobre musica. Um papo dos melhores: inteligente, simpático, mostrando conhecer  de todos os assuntos que conversamos, Gonzaguinha não largava o copo de cerveja, que eu também fiz questão de acompanhar, e no final perguntei-lhe:
-Gonzaguinha, você é um compositor romântico e ao mesmo tempo político, com letras polêmicas como "Explode Coração" e "É", canções que mostram os vários caminhos que você consegue percorrer com grande facilidade e muito talento. Mesmo que tenha sido criado pelo músico Xavier do Violão, no Rio, você é filho de um dos maiores nomes de nossa música, o pernambucano Luiz Gonzaga. A pergunta: Quem para você é o grande nome de Nossa Música Popular?
-Meu pai, Luiz Gonzaga! -respondeu o compositor. E explicou:
-Cara, na época em que meu pai começou a fazer sucesso, na década de 40, os nordestinos só eram chamados pelos cariocas e paulistas de "paraibas". Foi com muito talento como músico e como compositor que meu pai venceu e hoje além de ser um artistas reconhecido e respeitado nacionalmente
Gonzaguinha, com o pai, Gonzagão
é também famosos no exterior, com músicas gravadas em vários países do mundo, como "Asa Branca". Por isso acho que meu pai, Luiz Gonzaga é o grande nome de nossa música-, respondeu um Gonzaguinha sério, feliz e cheio de orgulho.
Pouco tempo depois Luiz Gonzaga morreu, em 1989, de problemas relativos a ostoporose, que lhe deixou doente por um longo período. Em 1991, dois anos depois da morte de Gonzagão, quando retornava de um show no interior do Paraná, Gonzaguinha bateu o carro e morreu. Tinha 45 anos.
Gonzaguinha, na oportunidade da entrevista, presenteou o escriba com um LP, com os seguintes dizeres: "Ao Marcos, Felicidade e Saúde". Gonzaguinha.

4 comentários:

  1. apesar do filho ter sido engajado com a política e ser brilhante também,o Gonzaga que mais me interessa é o pai ('Tudo em volta é só beleza,sol de abril e mata em flor,mas Assum Preto cego dos olhos,não vendo a luz,uai,canta de dor).

    agora se o senhor puder contar mais sobre o Belchior,sobre esses eventos pró-esquerdistas,ou se o senhor já teve algum contato com ele eu agradeceria,afinal eu sou o maior fã do cara em Belém do Pará,hehe,e tenho muito interesse em coletar depoimentos sobre ele

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  2. Breve farei uma matéria sobe o meu amigo Antonio Carlos Gomes Belchior, com quem me encontrei varias vezes, aqui em Belém e em Brasília. Tenho, inclusive, um velho vinil com uma dedicatória do Belchior.
    Entrevistei Belchior duas vezes, e em uma delas bebí conhaque no camarim com o cara. É uma bela pessoa, inteligente, com uma enorme conhecimento da cultura nacional e um dos grandes conhecedores da literatura portuguesa, de Camões a Antero de Quental; de Fernado Pessoa a Florbela Espanca. Belchior é com todas as letras um intelectual, talvez o maior de nossa MPB, com respeito aos demais, principalmente a Chico, Caetano e Gil, que são também expoentes intelectuais de nossa música.

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  3. o Belchior faz muita referencia a poesias e obras musicais de outros autores em seu trabalho,tem na internet uma dissertação sobre isso muito interessante,é só pesquisar.
    no intervalo do jogo domingo eu vou lhe proocurar pro senhor me contar estas histórias sobre o Belchior e sua vivência com esta figura,e essa história do vinil foi pra me matar de inveja,eu adoro LP's e pretendo comprar o "Alucinação" que se encontra a venda na internet.

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  4. O Alucinação, que modéstia à parte sei quase todas as músicas de cabeça. foi o prieiro disco de Belchior, lançado em 76 e eu tenho ele originalmente. Uma das músicas que mais gosto é "Não leve flores".

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