quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Feriado com um belo samba



Feriadozinho chato, no meio da semana! Mas o que fazer? Com certeza se não fosse o antigo Ministro da Desburocratização éramos para ter ainda muito mais dias feriados. Ele tirou pelo menos uns 10.
Mas feriado já faz parte da cultura do nosso povo; tem gente que no início do ano já planeja os dias feriados, as viagens, os churrascos. Aliás, é normal determinados funcionários possuírem um calendariozinho, daqueles de bolso, com os dias feriados marcados em duplo vermelho. Muitos fazem até planejamento. Imagine só!
Mas acho que não se deve criticar, porque se o feriado existe é para se aproveitar e é isso o melhor da democracia, a liberdade individual e fim de papo.
Pensando bem,  feriado no meio de semana não deixa de ser um dia bom para pensar, refletir sobre muitas coisas que estão acontecendo (e são tantas!); ler, ouvir uma boa música. Como a que vinha ouvindo agora no carro, um belo samba interpretado pelo grande Mestre Marçal, que foi diretor de bateria da Portela mas também um excelente intérprete de sambas. Foi ai que pensei: puxa, como os sambistas cariocas são unidos. Nunca se vê uma traquinagem de um para outro, derrubação. Sempre um artista do samba está defendendo, elogiando o trabalho do outro. Martinho elogia o trabalho de Paulinho da Viola, que respeita e gosta do de  João Nogueira, que mesmo já falecido é sempre lembrado por todos os grandes sambistas. É normal no  reduto do samba, numa roda de samba, num show, alguns compositores e cantores chamarem o colega para uma canja. É muito natural para eles, não existe a velha concorrência, a inveja, coisas assim.
No início dos anos 70, Cartola criou um Bar chamado Zicartola. Havia acabado de ser reencontrado, depois de mais de 10 anos desaparecido. Quem o encontrou lavando carros foi o jornalista Sérgio Porto, também conhecido como Stanislaw Ponte Preta. O Bar Zicartola, de Cartola e dona Zica, sua mulher,  era frequentado por sambistas, intelectuais, jornalistas, músicos, enfim pelo pessoal que gostava das coisas mais genuínas do Brasil. Muita gente boa começou alí, tipo Paulinho da Viola, o próprio João Nogueira e mais uma pá de novos compositores oriundos das universidades que queriam fazer algo novo em termos de letras, e que frequentavam o Zicartola para beber da fonte límpida que era o som e as letras poéticas dos românticos compositores da chamada Velha Guarda.
Depois, no final dos anos 70, João Nogueira criou o Clube do Samba, espécie de confraria de sambistas e amantes do samba, onde se reuniam os bambas do samba da época como Martinho da Vila, Jorginho do Império, Chico Buarque, Alcione, dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Almir Guineto, Rosinha de Valença, Paulinho da Viola, Roberto Ribeiro, Lecy Brandão, o próprio João Nogueira,  Monarco, Casquinha, Marçal e Candeia, além dos componentes da Velha Guarda da Portela, da Mangueira e do Império Serrano.
Os encontros sempre se transformavam em confraternização, sem ninguém querer ser mais que o outro, um respeitando o trabalho e o espaço dos demais e o mais interessante: uma caixinha sempre rolava para ajudar  o companheiro que estava numa pior por qualquer problema que fosse. Sem se falar na cerveja e na cachacinha de praxe, que não podia faltar.
Hoje no mundo do samba a coisa é da mesma maneira, apesar do avanço e da valorização bem maior dos compositores e cantores desse ritmo bem brasileiro. Marisa Monte sempre sobe o morro e foi editora ou melhor, patrocinadora de alguns discos de artistas da velha guarda como D. Ivone Lara e As Mulheres da Portela. Recentemente, Zeca Pagodinho, reuniu em DVD vários artistas do samba, alguns compositores que vivem no anonimato mas que pelo menos recebem seus direitos (embora acho que não seja tão "direito"), e fez aquela festa. Muito legal o ambiente do samba, a amizade do samba. Por isso, imagino, ele não morre, não se acaba. Como diria Paulinho da Viola em um de seus inspirados versos:

"Andam dizendo por ai que o samba se acabou,
Só se foi quando o dia clareou".

Em homenagem aos sambistas, camaradas, companheiros muito unidos, o Blog reverencia a um dos bons cantores e mestres do samba: Mestre Marçal da Portela, cantando a belíssima canção de Sereno, Julinho e Moisés, "Facho de Esperança". Sinta a poesia e o belo casamento com a melodia. Simplesmente linda.

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