E se a Dilma tivesse desabado ?
Por Marcos Coimbra
É claro que isso começou depois do
fim da ditadura. Entre 1964 e a redemocratização, elas foram
parcimoniosamente realizadas e divulgadas. Sem eleições para o
executivo, a não ser em cidades do interior, quase ninguém fazia
pesquisas de intenção de voto. E, dado que a opinião pública é pouco (ou
nada) relevante nos regimes autoritários, tampouco se faziam pesquisas
sobre os sentimentos e avaliações da população a respeito de temas
administrativos e governamentais.
Foi ao longo desses mesmos 20
anos que aumentou a importância das pesquisas mundo afora. Enquanto elas
foram se incorporando ao cotidiano dos países desenvolvidos, sendo
regularmente realizadas para veículos de comunicação, governos,
instituições acadêmicas, organizações da sociedade civil, entidades de
representação de interesses, partidos políticos e candidatos, por aqui o
ambiente lhes era hostil.
Nos atrasamos em relação a
esses países, demoramos a acertar o passo, mas conseguimos. De meados da
década de 1980 para cá, as pesquisas (de opinião, mas também de mercado
— o que é outra história) se modernizaram e consolidaram no Brasil.
Apesar disso, nossa mídia é uma
cliente cautelosa e limitada dos institutos. Ao contrário da regra nos
Estados Unidos e na Europa, onde jornais, emissoras de televisão e
portais de internet são consumidores vorazes de pesquisas, seus
congêneres brasileiros costumam pensar na base do “quero, desde que seja
de graça”. Todos acham ótimo divulgar uma pesquisa, mas se arrepiam
perante a ideia de custeá-la.
A única exceção (que, de certa
forma, confirma a regra), é o Datafolha, departamento de pesquisa de um
jornal, que se utiliza dele na sua política comercial. Como nenhuma
outra empresa de comunicação (acertadamente) achou que precisava ter
“seu instituto”, sequer outros semelhantes existem.
Com isso, a sociedade
brasileira passa meses sem saber o que pensam as pessoas sobre a
conjuntura, o que sabem e consideram relevante nos acontecimentos, que
percepção têm dos personagens da política e de seus atos. Até que a
mídia ganhe de presente alguns resultados, caso dos patrocinados por
entidades de classe, a exemplo da CNI e da CNT.
Por alguma razão misteriosa,
isso muda na véspera dos processos eleitorais, especialmente nas
eleições presidenciais e de governador. Quando elas chegam, todos os
veículos se sentem obrigados a ter a “sua pesquisa”. E a dedicar uma
parte enorme da cobertura a discutir números, algo que costuma
interessar apenas secundariamente a leitores e espectadores.
Uma das explicações desse
comportamento talvez seja que as pesquisas, às vezes, não dizem o que as
redações esperam. E que, sem elas, é sempre possível especular sobre a
opinião pública, sem o incômodo de consultá-la. Para que gastar dinheiro
fazendo pesquisas, se vamos ignorá-las caso não mostrem o que queremos?
Tudo isso vem à mente com a
divulgação da mais recente pesquisa do Datafolha sobre a popularidade da
presidente e a avaliação do governo federal. Sem entrar em detalhes, o
mais relevante que ela mostrou é que ambas vão bem. Na verdade, muito
bem, considerando que subiram índices que já eram elevados. Na pesquisa
anterior, Dilma batia o recorde de aprovação para presidentes no começo
de mandato e superou, na nova, sua própria marca.
Definitivamente, não era isso
que supunham os jornais. Nos dias que antecederam a demissão de Palocci,
o que vimos foram especulações sobre a “queda de Dilma nas pesquisas”,
dada como tão certa que o interessante passou a ser as consequências de
seu hipotético “desgaste de imagem” na governabilidade.Como a pesquisa não confirmou
qualquer recuo, um silêncio sepulcral se abateu sobre ela. Foi quase ignorada e nem mesmo o jornal que é dono do Datafolha achou que valia a
pena insistir no assunto.
Só imaginando: o que teria
acontecido se, ao invés de mostrar uma subida de 2%, ela tivesse
indicado uma queda, ainda que pequena, na popularidade de Dilma? De uma
coisa podemos estar certos, a pesquisa seria um estrondo.
(Do Blog Vermelho).
O que o amigo achou da mais brilhante criação: sigilo nas contas para a Copa do Mundo de 2014?
ResponderExcluirLUIZ PAULO PINA
Acho uma sacanagem. Não fecho com essas coisas, que considero ERRADAS. A transpar~encia, em todos os sentidos, deve existir, para o bem do povo e felicidade geral da nação.
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