Tio Zeca era uma pessoa bem diferente. O período que passei em sua casa, mais ou menos seis meses, deu para reparar bem na pessoa que era o meu tio, aliás, tio "torto", marido de minha tia Marieta, irmã de meu pai.
Fui para sua casa com nove anos de idade, logo após o falecimento precoce de minha mãe. Meu pai, com cinco filhos menores para criar, tendo que trabalhar, resolveu pedir apoio às irmãs, tendo eu ido para casa de Tia Marieta, Meire para casara de Tia Adalgisa e Júlia para a casa de Tio José Augusto, este, irmão de minha mãe.
Mas quero falar aqui é de tio Zeca. Ele foi um dos precursores da "Geração Saúde". Pois é. Há mais de 40 anos tio Zeca já fazia suas caminhadas diariamente. E bote caminhada nisso: tio Zeca ia e voltava de seu trabalho, uma alfaiataria no centro da cidade, caminhando, numa distância equivalente a sete ou oito quilômetors. Não aceitava "carona" nem pegava ônibus. Era na base da "´pernada", de segunda à sexta.
Outro fato curioso de tio Zeca, era que ele era uma figura que pouco falava. Comigo só fazia responder: "Deus te abençoe", quando eu lhe tomava bênção. Nunca o vi brigar com os filhos ou com a mulher, discutir por qualquer problema que fosse, tomar posição contra ou a favor de nada. Acordava sempre às cinco da manhã, punha sua máquina "Pfaff" para funcionar, pedalava até às 6,30, tramava uma cafézinho e rumava para o trabalho. Ia sempre de terno e gravata, elegantemente vestido. Não falava, só acenava para as pessoas. Uma vez ou outra o ouvia balbuciar duas ou três palavras com minha tia Marieta, ao contrário de tio Zeca, muita gorda, risonha, louca por uma feijão com farinha e banana, na especialidade que só ela fazia: o "capitão" de um lado e a banana de outro.
Caminhando hoje, lembrei-me do quanto tio Zeca foi moderno para sua época. E, também, entendo o porquê dele ser tão magro, quase esquelético, mas com muita saúde: as caminhadas que ele fazia, talvez ingênuamente, todos os dias.
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