O Jornalista Geneton Moraes Neto sonhou quando garoto ser cineasta. Mas aos 15 anos já ensaiava no jornalismo e, justamente nessa idade, entrevistou Caetano Veloso pela primeira vez. Geneton é pernambucano, tem 56 anos e 40 de profissão. E seu sonho de cineasta aconteceu quando resolveu passar a limpo suas memórias e as memórias do exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, em Londres.
Num trabalho com seu amigo Jorge Mansur, Geneton dirigiu o excelente "Canções do Exílio: A labareda que lambeu tudo", onde conta o período em que Caetano Veloso e Gilberto Gil foram "convidados" a deixar o País.
O documentário já foi apresentado em alguns festivais de cinema, como o Festival Mimo de Cinema, em
Olinda, no Festival Inffinito, em Nova Iorque, além de uma apresentação na sala do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, para uma
plateia formada maioritariamente por estudantes, que contou com a
presença de Jards Macalé, um dos entrevistados do longa-metragem.
Ao longo de 92 minutos, Geneton passa a limpo os descaminhos que o
levaram ao jornalismo – desvio da trajetória juvenil pensada para o
cinema- e a estadia londrina de Gilberto Gil e Caetano
Veloso, entre o final dos anos 60 e o começo da década seguinte,
quando foram gentilmente aconselhados pelos militares a tomarem a
direção da capital do Reino Unido.
Caetano e Gil, em pleno período do movimento Tropicalista, incomodavam, na visão dos militares, pelo comportamento ultramoderno e anarquista, por isso, alguns meses antes da partida para Londres,
foram presos, coincidentemente logo após a decretação do Ato Institucional Número 5, em
Dezembro de 1968.
O Canal Brasil está apresentando o documentário de Geneton Moraes e Jorge Mansur. Nos depoimentos de Caetano, Gil, Jorge Mautner e Jards Macalé, toda a emoção e o desalento que os brasileiros sofreram. Em um dos momentos, Caetano narra que em 1971, seus pais estavam completando 40 anos de casado e seus irmãos, liderados por Maia Betânia, criaram um movimento no sentido de trazê-lo pelo menos para participar da missa e dos festejos. Depois de muito trabalho e cm a intereferência de um empresário amigo de Chico Anísio, Caetano foi liberado ara vir ao Brasil e ficar quase no anonimato, apenas para participar dos festejos.
"Quando eu e minha mulher Dedé descemos no aeroporto, no Rio de Janeiro" -fala Caetano- "fui praticamente empurrado para dentro de um fusca, deixando minha mulher estarrecida. Dali, me levaram para um apartamento, onde permaneci por mais de seis horas depondo. Os elementos que me levaram, queriam me forçar a fazer uma música elogiando os militares, a transamazônica, enfim, algo que mostrasse que eu estava "fechado" com eles. Recusei, disse que as coisas não funcionam assim, que não poderia escrever sobe o que não conhecia. Eles disseram que muitos artistas já tinham feito, mas eu não cedi. Foram seis horas de tortura intelectual, onde eu quase morri", disse o artista baiano.
Caetano e Geneton, nos anos 70 em Recife. |
Caetano disse ainda que nessa sua estada, teve que fazer dois shows, na Globo, no Programa Som Brasil."Todos esperavam, que como vinha de Londres, cantasse um rock pesado, mas meu espírito de exilado não estava para essas coisas, e acabei cantando uma música bem antiga, bem brasileira".
Gilberto Gil, que passou o período da Copa de 70 em Londres, exilado, disse que "não sabia se torcia pelo Brasil ou contra, pois torcendo a favor estava dando força à ditadura. Mas o coração, o amor pela terra foi mais forte e eu e um grupo de exilados torcemos, gritamos, vibramos pelo Brasil, que ganhou da Inglaterra de 1 a 0. Onde eu morava, no bairro Chelsea, onde tem o time de futebol e seu estádio, no outro após a vitoria do Brasil as ruas amanheceram pichadas com a inscrição "Rivelino revelation", numa alusão ao grande jogador brasileiro Rivelino, que eles, os londrinos, consideraram a grande revelação daquela Copa que foi nossa".
Sobre o filme "Canções do Exílio", que mostra um grande e importante momento da história política e musical brasileira, Geneton explicou: “há tempos eu estava querendo fazer um documentário. De certa
maneira, era uma tentativa de retomar uma “carreira” que foi
interrompida lá atrás. Fiz cinema amador em Pernambuco, na época do
movimento de cinema Super 8. Depois, passei a trabalhar, por puro acaso,
em televisão. Um amigo, Jorge Mansur, que possuía câmera e ilha de
edição, passou anos me convocando para fazer alguma coisa. E foi ele, Mansur e o Canal
Brasil que coproduziram o
documentário”.
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