O final dos anos 70 e princípio dos anos 80, mesmo com a diminuição das turbulências políticas, graças à abertura que fez retornarem ao Brasil grande número de brasileiros, foram difíceis. Brizola foi último exilado a retornar ao Brasil. E quando chegou viu a surpresa da sigla de seu PTB estar nas mãos de Ivete Vargas. Com fama de brigão, Brizola resolveu criar seu partido, bem diferente do PTB, que com Dona Ivete ficou conhecido como o partido da Cobal. O velho Brizola insistiu no trabalhismo e fez o seu PDT.
Em 1982, a volta das eleições diretas para Governador. Depois de muitos anos, os brasileiros voltaram a eleger seus candidatos, alegria para quem nunca tinha votado na vida. Mas o sonho era votar para Presidente. O povo foi às ruas, para raiva dos remanescentes do sistema totalitário e brigou incessantemente por Direta Já.
Era uma festa cívica, com milhares de brasileiros, jovens, velhos, todos munidos do mesmo sonho de votar para presidenta da República. O velho Ulisses Guimarães, apelidado de Senhor Diretas, Leonel Brizola, Luis Inácio Lula da Silva, o mais jovem deles, Dante de Oliveira, Mário Covas e mais um grande número de políticos, boa parte oriunda do exílio, de países vizinhos e distantes, como Miguel Arraes, que passou parte de seu exílio em países da África.
O Partido dos Trabalhadores entrou na briga em 1980, ano de sua fundação. Nasceu no movimento sindical, e se firmou nos movimentos populares de bairros, igreja, botequins, escolas, universidades e em todos os lugares onde houvesse vontade de lutar por um Brasil mais democrático, mais alvissareiro para nossos pais, nós e nossos filhos. É hoje o mais importante partido da América do Sul e um dos maiores do mundo. Tem mais de um milhão e meio de militantes filiados e mais de 5 milhões de simpatizantes.
Mesmo com um sentimento de mudança rondando nossas vidas, com os jovens lutando de todas as maneiras apoiados por um grupo de grandes brasileiros que compunham os partidos de esquerda, o Brasil continuava nas mãos do atraso, e a proposta de Diretas Já dormitava. Parecia até que nunca conseguiríamos realizar o sonho de eleger o Presidente do Brasil.
Em 1985, o PT recusou-se de participar da "eleição de brincadeirinha" entre Tancredo Neves e Paulo Maluf. Paulo Maluf, todos conhecem. Um nome que sempre fez parte da extrema direita, sendo ele além de um "filhote da ditadura", como bem o chamou Leonel Brizola, locupletou-se dos bens nacionais e do povo, um oportunista da primeira linha. Seu opositor, Tancredo Neves, também um servidor de todos os governos. Vinha caminhando no chamado MDB, embora não muito autêntico, uma figurinha carimbada como profissional de política. Disputaram os dois no Colégio Eleitoral, uma espécie de Conselho onde só "notaveis" escolhem pelo povo. Ou seja, o cara escolhe por mim, mesmo sem eu querer. Coisas da direita mais conservadora.
Tancredo, que morreu como herói (não para mim, vale salientar) foi o eleito mas não assumiu. Para os mais jovens avaliarem como a coisa era: seu vice foi José Sarney, um autêntico membro da direita mais oligárquica do país, e com a morte do "herói" Tancredo ficou como o Presidente.
Agora imaginem: depois de mais de 20 anos de governo militar, onde o povo para um deles era menos importante que um cavalo (o presidente disse que adorava cheiro de cavalo), fomos obrigados a engolir um Sarney. Não foi dose para cavalo, mas para mamute!
Só começamos a mudar realmente a partir de 1989, um ano após a Nova Constituição, que definiu que a partir daquele momento as eleições gerais seriam pelo voto popular. Uma grande vitoria dos brasileiros!
Na primeira eleição direta depois de quase 30 anos, ainda tivemos que suportar um demagogo, fascista, que abusando da ingenuidade dos menos letrados, dos conservadores, de jovens que não foram acostumados a vivenciar os movimentos políticos, conseguiu enganar e vencer a eleição. Este Fernando primeiro, felizmente quando os jovens despertaram, foram os primeiros a pedir sua cabeça. E assim ele foi destituido. Caiu sua máscara de caçador de marajás. Aliás ele, um Marajá, não poderia caçar a ninguém.
Depois de 1989 o Brasil entrou num verdadeiro sistema democrático. Humano e com a participação de todos os brasileiros, inclusive os jovens de 16 anos, que têm a opção de votar sem a obrigação.
Com o Novo Código Civil, que entrou em vigor a partir de 2002, qualquer tipo de eleição tem que ser direta. Eleição por colégio eleitoral ou Conselho foi sepultada, para sempre. De síndico de prédio, passando por diretores de colégios, presidente de clubes e associações, sejam de motoristas, taxistas e até de vendedores de acaí, têm que eleger pelo voto direto, democraticamente.
Ainda existem falhas no sistema. No futuro certamente o voto será facultativo para Presidente e todos os outros cargos eletivos. Mas o mais importante o povo conquistou, que foi passar a escolher seus representantes em todos os setores da vida pública. Da Câmara de Vereadores à Presidência da República.
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